Em um período de três meses, entre 1º de novembro de 2010 e 31 de janeiro de 2011, as composições da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) registraram 1.577 falhas, em um total de 197.661 viagens realizadas. Segundo dados da própria empresa, em 2010 o indicador Mean Kilometer Between Failure (MKBF), que mede a quantidade de falhas por quilômetro rodado pelos trens, registrou uma falha a cada 3.677 quilômetros.
Apesar da grande quantidade de falhas, o número de problemas nos trens da CPTM caiu na última década. Em 2001, o MKBF era de 1.675 quilômetros - ou seja, as falhas eram mais frequentes, pois ocorriam em um intervalo menor de circulação. Além disso, a companhia afirma que as falhas registradas de novembro a janeiro deste ano representam apenas 0,8% das viagens realizadas no período.
A CPTM não detalhou os tipos de falhas, explicando apenas que elas podem ocorrer em partes do trem (equipamentos elétricos, eletrônicos, pneumáticos ou mecânicos) e no sistema (sinalização, energia elétrica de tração, via permanente e telecomunicações). Os problemas também podem ser causados por agentes externos, como inundações e raios.
Superlotação
Nos últimos dez anos, a quantidade de passageiros transportada pela CPTM cresceu 46,7%. Em 2001, a companhia transportava uma média de 1,5 milhão de usuários por dia útil. Entre novembro de 2010 e janeiro deste ano, a média foi de 2,2 milhões de passageiros por dia útil.
Essa superlotação amplia os problemas nos casos de falhas dos trens. Nas composições com sistema de ar condicionado, por exemplo, quando há um problema e a ventilação é desligada, os passageiros começam a passar mal, pois não há janelas que possam ser abertas. Assim, muitas vezes os usuários quebram as portas para poder sair e respirar. Nos três meses de novembro a janeiro, o gasto com reparos de equipamentos atingidos por vandalismo nos trens da CPTM chegou a R$ 1,3 milhão. Para se ter uma ideia, nesse período a CPTM registrou 460 ocorrências médicas com os usuários - mas nenhum caso grave.
Horário de pico
Outro problema é a lotação em horários de pico em algumas estações, como Brás, Luz, Barra Funda e Guaianazes. Segundo a CPTM, diversas ações são adotadas para amenizar os efeitos da lotação. A empresa afirma que, nos horários de pico, realiza a Operação Plataforma, para dar mais segurança ao embarque nos trens, além limitar o acesso de usuários à área de embarque pelas linhas de bloqueios. A CPTM informou ainda que está comprando dezenas de novos trens e implantando um novo sistema de sinalização em suas seis linhas, o que permitirá a redução do intervalo entre as composições.
Por enquanto, os usuários reclamam. "No horário de pico os trens são muito lotados. Mas em algumas estações, como a Luz, por exemplo, é complicado em qualquer horário", afirma a analista de recursos humanos Sandra Regina de Oliveira, de 36 anos. "A lotação é muito grande. Em termos de conforto, a CPTM é nota zero. A estrutura melhorou nos últimos anos, mas ainda tem muito a se fazer. É muita gente para pouco vagão", opina o estudante Valdir de Souza Leite, de 18 anos.
Segundo o Community of Metros (Comet, órgão que congrega os principais metrôs do mundo) um índice aceitável de lotação é de até 6 passageiros por metro quadrado. Com base nesse dado, a CPTM diz que oferece por dia 4.668.728 lugares, durante as suas 20 horas operacionais, nas seis linhas.
A estudante Maria Cecília Xavier, de 19 anos, utiliza os trens da CPTM todos os dias. No ano passado, sofreu um assalto à mão armada dentro de uma estação. "Tive de ser levada para o hospital, fiquei com síndrome do pânico. Hoje em dia não pego mais o trem quando está lotado", conta.
Funcionários
Embora o número de passageiros tenha crescido, as contratações da CPTM não seguiram o mesmo ritmo. A companhia afirma que "dimensionou o quadro de empregados que trabalham nas áreas de estações, segurança e manutenção para atender às suas necessidades operacionais", mas admitiu que realiza estudos de recursos humanos "para eventuais ajustes nas áreas que se revelem subdimensionadas".
Embora o número de passageiros tenha crescido, as contratações da CPTM não seguiram o mesmo ritmo. A companhia afirma que "dimensionou o quadro de empregados que trabalham nas áreas de estações, segurança e manutenção para atender às suas necessidades operacionais", mas admitiu que realiza estudos de recursos humanos "para eventuais ajustes nas áreas que se revelem subdimensionadas".
Atualmente, a CPTM conta com 7.245 empregados. Desse total, 6.050 atuam na área operacional, que inclui circulação de trens, estações e segurança, além de manutenção de trens e sistemas. Mas Eluiz Alves de Matos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de São Paulo, diz que falta pessoal tanto nas estações quanto nos trens.
"Antigamente, em todos os trens tinha um auxiliar para o maquinista. Hoje, quando ocorre um tumulto, ninguém sabe o que fazer. O maquinista está lá sozinho, não tem como controlar a situação", explica o sindicalista. Ele afirma que nos últimos meses a CPTM contratou dezenas de maquinistas, mas lembra que esses profissionais precisam de um período de treinamento de, no mínimo, seis meses.
Matos diz que, com o crescimento da demanda, a CPTM deve colocar mais trens nas linhas para reduzir o intervalo entre as composições. Para isso, é preciso instalar mais subestações elétricas. "O governo investiu, mas precisa investir muito mais."
Investimento
A CPTM explica que herdou sistemas antigos e compartilhados com o transporte de carga e que precisam ser modernizados para que possam operar com menor intervalo e, assim, aumentar a oferta de lugares e diminuir a lotação. "No entanto, por tratar-se de alteração tecnológica dos sistemas, os benefícios serão sentidos pelos usuários somente à medida em que as ações são concluídas", afirma a companhia.
A empresa diz que está investindo no reaparelhamento das áreas de manutenção, com a aquisição de equipamentos e rigorosos procedimentos de revisão e manutenção preventiva para reduzir o número de falhas. "A complexidade das atividades para a melhoria desses sistemas, sem paralisar a operação comercial, provoca perturbações que interferem com a circulação dos trens", justifica a companhia.
Entre 2006 e 2010, o governo de São Paulo investiu R$ 4 bilhões na CPTM. Atualmente, estão sendo realizadas obras em todas as seis linhas. Na Linha 8-Diamante, por exemplo, cinco estações passam por intervenções para atender a maior demanda e facilitar o acesso. O trecho entre Itapevi e Amador Bueno (desativado para obras) está passando por recapacitação da infraestrutura e reforma das estações para voltar a operar. Fonte: G1 Fotos: Ricardo Guimarães