No ano de 1863, Londres inaugurava seu metrô. São Paulo descobriu o transporte debaixo da terra um pouco mais tarde: 1974. Ou seja, 111 depois. Por que temos de engarrafar as ruas, enlouquecer no trânsito e perder horas e horas de vida? A falta de velocidade na entrega das obras dos trens subterrâneos em várias das capitais brasileiras causa desconforto e revolta na população.
Falta de planejamento é a principal explicação para toda essa lentidão. Com dois grandes eventos esportivos – a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 – se aproximando, a preocupação com transporte público e eficiente aumenta a cada dia. Esta semana São Paulo ganhou mais uma estação, mas a maior rede de metrô da maior cidade do país ainda está muito distante até mesmo de outras capitais latino-americanas.
A maior cidade do país tem a maior rede de metrô, mas ainda bem distante da estrutura de outras grandes capitais mundiais, como Nova York (479 quilômetros de linha e 424 estações) e Londres (439 quilômetros de linha e 270 estações). Em São Paulo, onde o metrô começou a funcionar há 37 anos, tem 70 quilômetros de extensão e 61 estações.
“É muito pouco tempo para que pudéssemos implantar uma rede semelhante à rede desses outros países”, afirmou Mário Fioratti, diretor de operações do metrô em São Paulo.
Quando comparamos o metrô da capital paulista com o da Cidade do México, duas das maiores metrópoles das Américas, dá para perceber uma enorme diferença. Na capital mexicana, a rede entrou em operação em 1972.
Tinha três linhas e 42 quilômetros. Dois anos depois, São Paulo inaugurou o sistema, com apenas uma linha e sete quilômetros.
Atualmente a Cidade do México tem 11 linhas e pouco mais de 200 quilômetros. Em São Paulo, há apenas cinco linhas e 70 quilômetros, o que representa menos da metade da estrutura mexicana para atender 3,5 milhões de pessoas que lutam por um espaço diariamente.
“Tem horas que você chega à estação e não tem condições de entrar”, disse um jovem. “Eu pego dois trens e um metrô e passo sufoco. Levo uma hora e meia. Não só eu, todo mundo da Zona Leste tem esse problema”, comenta o bancário Marcos Pedro Rodrigues.
A superlotação acaba afastando usuários do transporte público e aumentando os congestionamentos.
Segundo o Detran, a frota de carros na capital paulista já é de sete milhões. Só nos últimos dois anos, 600 mil pessoas passaram a usar o carro como meio de transporte. Para dar conta dessa demanda, seriam necessárias mais dez linhas de metrô funcionando hoje.
Em 2010, foram entregues cinco novas estações. Esta semana foi entregue mais uma, toda informatizada, mas o número ainda é insuficiente para atender à população.
“O metrô sofre consequência da superlotação. Em alguns trechos, ele transporta além da sua capacidade. Se você pegar volume de passageiro por quilômetro, é o metrô mais denso do mundo”, aponta o especialista em transporte Telmo Porto.
Em outras capitais do país, a estrutura desse tipo de transporte é menor. “É um empurra-empurra, as pessoas se machucam”, reclama uma jovem.
No Distrito Federal, o serviço começou a funcionar há dez anos. Atualmente conta com 42 quilômetros de extensão, utilizados por 160 mil habitantes. Pouco mais que o Rio de Janeiro, onde são 41 quilômetros de linhas. Meio milhão de passageiros passam diariamente pelas 35 estações.
“Paris é uma cidade muito menor do que o Rio de Janeiro e tem 3,5 milhões de habitantes. Nós temos seis milhões e 60 quilômetros de metrô. Os franceses têm 300 quilômetros”, compara o engenheiro Fernando Mac Dowell, especialista em transportes.
Em Salvador, a construção do metrô começou há 12 anos e não terminou. Foi paralisada por irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). “Muito já foi gasto e até agora nada”, comenta um soteropolitano. Em Fortaleza, o sistema ainda está sendo construído. Serão 24 quilômetros de extensão, que devem ficar prontos no ano que vem.
Na opinião de especialistas, para melhorar o transporte público, o investimento precisa ser contínuo e o metrô virar prioridade no país. “É uma coisa que vai envolver o empenho do governo federal e dos respectivos governos estaduais, porque está por fazer”, disse o especialista em transporte Telmo Porto.
“O grande problema dos metrôs é a falta de planejamento da cidade. O automóvel hoje é considerado um vilão. Ele não é um vilão. O vilão são as pessoas que tiveram poder na mão e não resolveram o problema”, acrescenta o engenheiro Fernando Mac Dowell, especialista em transportes.
Hoje são sete as estações de metrô em construção na cidade de São Paulo. A maior parte das obras está na chamada Linha Amarela, que passa por regiões muito populosas da capital paulista, como Jardins e Pinheiros. A previsão de entrega dessas estações é 2014. Outra grande obra faz parte de uma rede que se estende até a Zona Sul. É da Estação Adolpho Pinheiro, que o governo promete concluir até 2013.
Em outra parte da cidade, na Zona Leste, a Estação Vila Prudente já está pronta, mas ainda não pode ser usada, porque falta concluir a construção de uma linha de monotrilho, que só deve ser entregue daqui a dois anos.
Porto Alegre anunciou esta semana o início da obra do metrô para o segundo semestre do ano que vem. O Rio de Janeiro também está construindo mais uma linha, que deve ser entregue em 2014.
Os especialistas em transporte apontaram outros problemas que atrapalham a construção do metrô. Um deles é a falta de organização do subsolo das cidades brasileiras. Muitas vezes não se sabe nem onde estão enterradas as tubulações de água ou de gás ou onde terminam as fundações de prédios. Outra dificuldade: retomar uma linha de metrô que ficou parada por muitos anos, como acontece com frequência, sobretudo em trocas de governo, custa muito mais caro do que começar do zero.
Fonte: G1 Foto: Ricardo Guimarães
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