JÚLIA GUIMARÃES
O grave acidente envolvendo um veículo de passeio e uma composição da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), ocorrido no último final de semana, em Braz Cubas, voltou a chamar a atenção para a falta de segurança nas passagens de nível da Cidade, considerado um dos principais e mais antigos problemas do trânsito de Mogi. O Diário percorreu ontem toda a extensão da linha férrea, no trecho urbano entre os distritos de Jundiapeba e César de Souza.
A reportagem encontrou vários flagrantes de imprudência e ouviu relatos indicando que colisões e atropelamentos são comuns nas travessias. Todo este cenário evidencia uma amarga e perigosa realidade: as frágeis cancelas instaladas nas passagens de nível do Município não conseguem impedir que os veículos invadam os trilhos e não garantem a segurança de motoristas e pedestres.
Mogi tem nove passagens de nível. Destas, seis estão localizadas na extensão da linha que é operada pela CPTM e as outras ficam no trecho explorado pela MRS Logística. A fim de permitir a fluidez do trânsito, a Prefeitura mantém um antigo convênio, com ambas as empresas, para que as cancelas da Avenida Manoel Bezerra de Lima Filho (nas proximidades do Mogi Shopping), da Vila Industrial e de Braz Cubas sejam operadas pela Administração Municipal.
O atual sistema demanda o acionamento manual, em uma situação que deixa motoristas e pedestres sujeitos à ocorrência de erros técnicos ou humanos. Há suspeitas de que estas possam ter sido as causas do acidente que deixou um homem gravemente ferido na madrugada do último sábado, na passagem da Valentina de Mello Freire Borenstein(leia mais nesta página).
Na manhã de ontem, as cancelas de Braz Cubas já funcionavam normalmente. Três homens da Guarda Municipal faziam o acionamento dos portões e tentavam orientar o trânsito, que fica bastante complicado nos momentos em que a passagem está fechada. O frentista Antonio Ananias Ferreira conta que são comuns os acidentes de trânsito envolvendo a travessia. Isso porque os motoristas realizam manobras irregulares e tentam transpor a linha após o acionamento dos sinais luminoso e sonoro.
A reportagem permaneceu na área por poucos minutos e constatou que, mesmo após o fechamento da passagem, ciclistas e pedestres conseguem fazer a travessia dos trilhos. "Deveriam fechar esta cancela. É impossível atravessar porque os carros não dão passagem. Ninguém tem mais respeito por ninguém", disse o ajudante geral Rubens Filho.
Em outros pontos do Município, a situação é a mesma.
O comerciante Ricardo Ferreira tem um bar na Rua Adriano Pereira, em Jundiapeba, e já presenciou vários acidentes na linha férrea. Ele conta que são comuns atropelamentos de cavalos e até mesmo de pessoas na passagem de nível local. A reportagem flagrou ciclistas e pedestres fazendo a travessia dos trilhos após acionamento da sinalização eletrônica. "As pessoas passam e acabam se acidentando. As colisões também ocorrem nas próprias cancelas. As pontas (do equipamento) vivem quebradas, porque os motoristas tentam passar e não dá tempo", relatou Pereira.
Na Rua Cavalheiro Nami Jafet, os relatos são semelhantes. O serralheiro Wesley de Souza trabalha na região há seis anos e conta que já se tornaram frequentes as situações em que motociclistas invadem as cancelas fechadas e se arriscam, passando sobre os trilhos da CPTM, nos dois sentidos da via, durante os intervalos de fechamento. Souza também relembrou um caso de suicídio na linha. "No ano passado, um homem se jogou na frente do trem. Não foi atropelamento, ele queria se matar", disse o serralheiro, em mais um relato sobre a evidente insegurança das passagens de nível.
De todas as cancelas, a mais complicada é da Rua Cabo Diogo Oliver, nas proximidades da Praça Sacadura Cabral. Pedestres, ciclistas e motoristas protagonizam uma verdadeira luta por espaço na passagem de nível. O comerciante Guilherme Frederico Augusto conta que é fácil ver batidas de veículos nas cancelas. Ele também relembrou o caso dramático da família mogiana que morreu após ser vítima de um acidente na passagem da Doutor Deodato Wertheimer. "Isso foi há oito anos. Eles eram meus amigos e me lembro até hoje do barulho da colisão entre o trem e o jipe", lamentou.
Ontem, o secretário municipal de Segurança, Eli Nepomuceno, fez um apelo para que os motoristas se conscientizem sobre a importância de obediência à sinalização das passagens de nível. Ele confirmou que houve uma falha na cancela de Braz Cubas no momento do acidente registrado no último final de semana e informou que serão tomadas providências, durante esta semana, para revisão de todos os equipamentos, cuja manutenção é de responsabilidade da Prefeitura. Porém, o secretário destacou que os sinais sonoro e luminoso funcionaram adequadamente. "As pessoas precisam obedecer à sinalização. A conscientização dos motoristas pode evitar tragédias como esta", disse.
Fonte: Diário de Mogi
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