Durante os três primeiros jogos do Mundial realizados na Arena Corinthians, em São Paulo, cerca de 70 furtos de ingressos foram registrados pela delegacia instalada no prédio da Fatec, ao lado do estádio. A maioria dos casos aconteceram no metrô, no entorno do estádio e até mesmo dentro do perímetro da Fifa, tanto com estrangeiros como com brasileiros.
Nos jogos entre Uruguai e Inglaterra (no dia 19) e Chile e Holanda (no dia 23), a reportagem ouviu relatos de torcedores dessas seleções, além de brasileiros. Mesmo aqueles que apresentaram foto do ingresso nominal, RG e Boletim de Ocorrência, comprovando ter comprado o bilhete, não tiveram seus ingressos reimpressos pela entidade.
Já no primeiro jogo do Mundial, entre Brasil e Croácia, quando os torcedores apresentaram B.O, conseguiram reimprimir seu ingresso na base da Fifa.
No jogo entre Uruguai e Inglaterra, um casal uruguaio, que não quis se identificar, foi roubado ainda na estação de metrô. Os ingressos foram retirados da mochila quando o rapaz foi puxado pelo ombro. Os dois chegaram a ir para a delegacia e abrir ocorrência, mas acabaram assistindo, aflitos, a entrada da celeste pela televisão.
No terceiro jogo em São Paulo, a cena se repetiu: diversos torcedores furtados chegavam para tentar, sem sucesso, reimprimir o ingresso para assistir a partida. Só que dessa vez, o número de furtos foi menor: 10. Na partida entre Uruguai e Inglaterra foram 20 ocorrências e no jogo da abertura, 40.
"A Fifa não nos deu nenhuma justificativa do motivo de não reimprimirem mais os ingressos para os torcedores", diz o delegado Igor Vilhora.
O chileno Carlos Baeza Leiva teve seu ingresso furtado dentro do perímetro da Fifa. Depois de já ter apresentado o ingresso duas vezes, Baeza o guardou no bolso e quando foi solicitado que o apresentasse pela terceira vez deu-se conta que não estava mais com o bilhete. "Assisti ao jogo entre Chile e Espanha no Maracanã e não precisei ficar mostrando os ingressos tantas vezes", desabafa.
Nos dois últimos jogos, para chegar até a Arena Corinthians, os torcedores passavam por dois bloqueios antes das catracas. Os voluntários pedem em português, espanhol e inglês em um megafone que os torcedores fiquem com os ingressos em mãos.
Além disso, placas no percurso também solicitam que os torcedores se preparem para mostrar o bilhete nas barreiras. E é neste momento em que, geralmente, os furtos acontecem, pois os bilhetes do Mundial têm um papel diferenciado que não pode ser dobrado ou amassado.
"Já pedimos para que a Fifa mude a forma de mostrar o ingresso na entrada do estádio, mas eles não nos responderam", conta o delegado Vilhora.
O holandês Ronald van der Meer vem acompanhando todos os jogos de seu país no Mundial. E acabou não podendo assistir a vitória da equipe sobre o Chile por 2 a 0, pois o ingresso foi furtado do seu bolso no metrô. Junto do ingresso estava seu celular, que não foi levado. "Eu ficava conferindo a todo hora para ver se o tudo estava no bolso. Na última vez que senti, só tinha o celular", conta.
"Hoje ninguém quer saber de celular. O ingresso é muito mais valioso", brinca o torcedor brasileiro Leandro Júlio, que também foi furtado antes mesmo de chegar na primeira barreira.
A história de Ademilson Silva e sua filha Luana teve um final feliz. Ele ganhou os ingressos para a partida de presente e quando chegavam ao estádio perceberam que os ingressos não estavam mais com eles. "Os bilhetes caíram no metrô e não percebemos. Chegamos aqui na Central de Ingressos da Fifa para tentar bloqueá-los e os turistas que os encontraram no metrô devolveram", explica.
OUTRO LADO
A assessoria da Fifa disse que a entidade deixou de reimprimir os bilhetes para os torcedores furtados para evitar confusões e porque houve casos de pessoas agitando de má fé para ter outro ingresso.
A entidade ainda respondeu que a área de bloqueio é de responsabilidade da cidade sede e o que importa é a hora de passar na catraca.
A única possibilidade, de acordo com cada caso, de ter o ingresso reimpresso é se o furto ocorreu a no mínimo um dia antes da partida. Para isso, o torcedor deve procurar o centro de ingressos no Ibirapuera.
ILEGAL
Os ingressos são vendidos por aproximadamente U$ 800 dólares nos entornos do estádio. A reportagem presenciou a prisão de um cambista francês que estava com 15 ingressos para a partida entre Chile e Holanda. O material foi apreendido.
"Caso seja constatada qualquer irregularidade no ingresso [falsificação ou roubo], a consequência será a impossibilidade do acesso do torcedor aos estádios e a inutilização do ingresso", afirma o advogado especialista em propriedade intelectual e entretenimento André Giacchetta.
De acordo com as regras da Copa, a Fifa não é obrigada a substituir quaisquer ingressos, independente do motivo. Além disso, o B.O não é suficiente para demonstrar a compra do ingresso, o torcedor deverá apresentar outros documentos que comprovem a aquisição.
Folhapress