Assunto que causa polêmica já há alguns anos, a pregação religiosa no interior dos trens de São Paulo ainda divide a opinião dos passageiros. Muitos se sentem incomodados e até delatam a prática, a fim de que os evangelizadores sejam retirados.
Dados da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) revelam que a média de denúncias diárias contra os pregadores subiu 42% neste ano em relação a 2010. Outros usuários, contudo, apoiam a ação dos “pastores” sobre trilhos, reivindicando mais espaço para eles.
A estatal informou ter recebido, de janeiro a junho, 177 mensagens de celular reclamando das orações, cerca de uma por dia. Em todo o ano passado foram 261, menos do que uma queixa diária.
O operador de logística Vanderlei Aparecido Luiz, de 38 anos, usa a Linha 10-Turquesa da CPTM – a que concentra mais denúncias – e diz se sentir incomodado com as orações nas composições. “Às vezes, chegam a gritar. Atrapalha as pessoas, quem tentam voltar dormindo de um dia cansativo.” Ele conta que chegou a presenciar a expulsão de um evangelizador por passageiros revoltados.
Também usuária do ramal, a operadora de impressão Adriane Proença, de 23 anos, considera a pregação um direito, mas defende que seja feita em outros locais. “Tem que ser em um lugar como uma igreja. Nem todo mundo que está no trem tem a mesma religião”, afirma.
Não é o que acha a auxiliar de limpeza Dalva Maria de Jesus Pereira, de 49 anos, que utiliza a Linha 12-Safira. “Tem muita gente que não vai à igreja. Então o trem é um bom lugar para pregarem.”
É justamente a possibilidade de converter os passageiros que leva o analista de informática Agostinho Ferreira da Silva, de 46 anos, a evangelizar há 8 anos nessa linha, que liga a capital a Poá, na Grande São Paulo. Faz isso diariamente na volta do trabalho, no trem que sai às 19h30 do Brás, sempre no quarto vagão. “A maioria das pessoas gosta”, diz.
Conhecido como irmão Guto, Silva ora e entoa hinos evangélicos. “A situação melhorou um pouco. Antes, os seguranças nos tratavam com truculência. Uma vez, rasgaram minha camiseta.”
A assessora jurídica Teresinha Neves, de 40 anos, já pregou nos trens da CPTM e hoje auxilia os evangelizadores que se sentem intimidados por agentes da CPTM. “Eu quero tirar a ideia de que deixaram de incomodar o trabalho de pregação como se fosse um favor. Se eles quiserem, são truculentos. Isso eu acho que é ilegítimo em um Estado democrático.”
A CPTM informou que a proibição “não se confunde com os direitos assegurados na Constituição”. A estatal informou que “o Estado é laico e pela própria Constituição ninguém tem o direito de impor sua fé”. Segundo a CPTM, quando um pregador é retirado do vagão, ele perde o direito da viagem e tem de comprar novo bilhete. O SMS Denúncia da empresa funciona pelo 7150-4949.
Fonte: Jornal da Tarde