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5 de agosto de 2011

Direto dos Centros de Controle Paulistanos

Centro de Controle Operacional da CPTM
É um bocado difícil entender o significado de tantas cores, prefixos, triângulos, círculos, quadradinhos, QSLs, QAPs, Q-não-sei-lá-o-quê... As telas não param de piscar um segundo sequer, em um ritmo frenético que passa a sensação de que algo errado está acontecendo. Algo muito errado, certeza. Em alguns momentos, são tantos pontos brilhando que mais parece uma árvore de Natal. Mas são os olhos atentos e treinados de quase 200 funcionários que conseguem traduzir diariamente todos esses dados, dar uma ordem a tantas informações, um trabalho estressante e quase desconhecido da maioria dos paulistanos. Tarefa essa que tem apenas um objetivo: fazer São Paulo não parar. 

O Expedição Metrópole visitou os quatro centros de operação que controlam o frenético vai-e-vem paulistano - os quartéis-generais da Companhia do Metropolitano (Metrô), da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e da São Paulo Transporte (SPTrans). São aquelas telas cheias de códigos e luzinhas indecifráveis que cuidam dos 225 trens, 5 milhões de carros, 900 mil motos, 157 mil caminhões e 15 mil ônibus da capital, um trabalho que de certa forma afeta a vida de todos os 11.253.500 moradores da capital. Mais do que entender os números e siglas utilizadas, a reportagem quis conhecer as pessoas que tomam conta do trânsito, os anônimos que há décadas estão ali dando o pulso da cidade. 

É o caso de Fernando Luiz Nunes, quarta geração de família de ferroviários, que começou há 23 anos como eletricista da CPTM e é gerente de circulação na central do Brás, responsável pela operação das linhas de trens das zonas leste e sul. Ou Sebastião Carlos da Rocha, um senhor elétrico, simples, de bigode farfalhudo, que veio há 25 anos de Caratinga, cidade no interior de Minas, para ser motorista da linha de ônibus 718 ( Anhangabaú-Ceasa). Hoje, ele é técnico de transportes no cérebro gerencial da SPTrans, no bairro do Pari, onde são controlados todos os coletivos da capital. "Isso aqui é uma família, pessoas que estão há muitos anos ", diz Tião, como é conhecido. "É um trabalho importante para a cidade, difícil... Mas eu não me canso não, viu. Quem me cansa mesmo é o meu cachorro lá em casa e os meus netos. O restante a gente tira de letra." 

Rotina. Tião, como ele mesmo fala, é uma "curva de rio" - se deixar, ele conversa em um mesmo respiro sobre a SPTrans, a carreira, as linhas que já trabalhou, os ônibus que já dirigiu, a família, sobre a amizade com ex-secretários de Transporte, o cachorro, os netos... "Agora que você começou a falar comigo está perdido, vamos a tarde inteira assim..." Mas, sejam as pessoas falantes como Tião ou aquelas que não tiram os olhos da tela, a impressão nos centros de controle é a mesma - um orgulho coletivo, apesar de todo o estresse. 

"A gente tem de estar com o dedo no gatilho a todo momento, pois nunca sabe quando vai dar algum problema", conta Aramir Lourenço, de 61 anos, superintendente da central de operação da SPTrans, uma sala de pouco mais de 100 metros quadrados no Pari. "Aí, quando acontece, precisamos acionar a reserva técnica, lançar o plano de emergência, avisar o secretário e os outros órgãos..." Resultado do trabalho: Lourenço tem dois enfartes no currículo. "Mas é apaixonante, porque você se sente útil", diz ele, resumindo o sentimento. 

A rotina nos centros é basicamente a mesma - monitora-se todo o movimento, relatórios são feitos a todo momento para acompanhar a demanda e corre-se para resolver todos os pepinos do trânsito paulistano, como ônibus quebrados, acidentes nas Marginais, trens parados porque a porta não fecha, linha sem energia, entre tantos outros problemas. "No pico da tarde, hora do rush, é o pior momento, pois tudo acontece", diz Paulo Vianna, chefe do Departamento de Operações da CET, lugar que recebe 5 mil ligações de paulistanos por dia e monitora o tráfego em 868 quilômetros de vias de São Paulo. "Ainda mais se chove. Aí, é um inferno total." 

Vianna passa tanto tempo resolvendo o problema dos outros motoristas que desistiu de dirigir. Mora a poucos quarteirões da CET e demora cinco minutos - "incluindo a pausa para o café" - para chegar em casa. 

Tecnologia. Os centros de controle do Metrô, no Paraíso, e da CPTM, no Brás, são muito parecidos entre si - uma sala ampla, como se fosse um auditório, onde todas as atenções estão voltadas para uma imensa tela com o diagrama das linhas dos trens. Quando a linha está pintada de verde, o trilho está livre; amarelo significa que a composição está calculando sua rota; vermelho é o trem passando. Fora essa parte básica, seria necessário um jornal inteiro apenas para explicar todos os códigos que também aparecem ali. 

"Claro que é estressante, muita coisa para prestar atenção... Olha só aqui para a minha cabeça", diz o operador Celso Kazuhiko Morita, de 64 anos, 37 deles no Metrô, apontando para sua avançada calvície. Pescador nas (poucas) horas vagas, Morita bate ponto no centro de operações desde que o local era conhecido como "sala negra", por ter as paredes pintadas de preto. Hoje, apesar das novas tecnologias, o Metrô ainda guarda no mesmo andar um imenso computador da década de 1960, quase uma geladeira, que gravava as informações em fita magnética e cuja memória não passava de 16 kilobytes - quase o mesmo de um calculadora científica. 

"É difícil até de desligar daqui. Outro dia minha mulher tentou me acordar e tudo o que eu falei foi "segue viagem", como se eu estivesse falando com o condutor do trem", diz Morita. "Tem dias em que você sai moído do trabalho, desgastado. Mas, por outro lado, vale muito por aqueles dias que você sai daqui realizado, feliz, por saber que ajudou os moradores de São Paulo." 

Tanto no Metrô quanto na CPTM, os operadores são responsáveis por prezar a segurança dos usuários, assegurar que as composições não atrasem e resolver entraves que aparecem ao longo do dia, como defeitos nos trens ou até mesmo pessoas que caem nas linhas. O trabalho nos dois endereços não para nem de madrugada, quando é feita a manutenção dos trilhos e do equipamento. "A gente tem uma espécie de código aqui... Quando olhamos nos monitores das estações e vemos um monte de cabecinha das pessoas, sem ninguém se mexer, é sinal de que as coisas não estão tão boas", diz Gilberto Antônio de Souza, de 51 anos, há 27 na gerência da CPTM. "Já quando dá para ver um pouco do chão da estação respiramos um pouco mais aliviados. Não dura muito, mas respiramos." 

Fonte: O Estado de S. Paulo