A banda BSM já impediu suicídio de um usuário do Metrô |
A multidão se espreme na plataforma. Nove homens fortes, a maioria grandes, vestem os tradicionais uniformes pretos dos seguranças e tentam acalmar o público do Metrô. Usam armas para atrair, não para dispersar. Voz, saxofone, baixo, guitarra, bateria, percussão, teclado, cavaquinho e trombone substituem cacetetes. E quem passa pela estação escolhida como palco pode aliviar um pouco as tensões do dia ouvindo a BSM (Banda dos Seguranças do Metrô). O grupo ganhou notoriedade e já tem até fã-clube.
O projeto, que começou como uma reunião de seguranças músicos para fazer apresentações voluntárias em asilos e orfanatos, começou a chamar atenção na empresa. Em pouco tempo, a banda, que tinha três componentes, mais do que dobrou. E passou a animar festas internas no Metrô. Não demorou para o chefe do departamento de Segurança, Rúbens Cirilo Menezes, de 54 anos, perceber que ali havia um grande potencial de marketing e de relacionamento direto com os usuários do sistema.
Uniforme
A BSM tem uma legião de seguidores, que correm para a estação definida como palco do show para garantir um lugar na fila do gargarejo. A tietagem já faz parte das apresentações. “Os usuários se tornaram nossos fãs. É extremamente gratificante. E o carinho pela banda se estende para os outros seguranças do Metrô. Como a gente faz apresentações com o uniforme da segurança, às vezes o público confunde”, revela o maestro Lucivaldo Soares de Araújo, trompetista de 35 anos.
Rúbens, chefe do departamento de segurança, ressalta a importância da relação da banda com o público e o benefício da música nas dependências do Metrô. “Leva ao usuário diversão gratuita. Leva ao músico a possibilidade da expressão e, aos funcionários, a maior autoestima”, avalia.
O percussionista Claudio Adolpho, de 29 anos, se emociona ao contar que a BSM impediu o suicídio de um usuário do Metrô. “A gente tocou e, um tempo depois de terminar o show, recebemos um e-mail. O rapaz dizia que estava determinado a acabar com tudo. Quando passou pela estação, ouviu a música, achou inspiradora e desistiu da besteira. Hoje, ele nos segue e agradece pela vida”, conta o músico.
A BSM surgiu em dezembro de 2011 e faz shows sempre às 18 horas, quando há um pico no movimento dos trens do Metrô. “O bacana é que nós fazemos muita gente esquecer, pelo menos por uma hora e 15 minutos, os problemas que traz do serviço, dos hospitais. Música é para alegrar, para emocionar. E é bom fazer isso para uma plateia tão diversificada”, diz Lucivaldo. “Certa vez, representantes da Dave Matthews Band nos viram tocar uma música da banda e nos mandaram uma mensagem de apoio”, conta o maestro, orgulhoso. A BSM toca covers de todos os gêneros. De sertanejo, passando pelo rock e até ópera. “A gente só não toca funk carioca”, ressalta Wagner Tadeu da Silva Júnior, cavaquinista, de 34 anos.
As preferidas
O público da BSM já tem seu set list preferido. No rock, não podem faltar “We Are The Champions”, do Queen, e “Have You Ever Seen The Rain”, da banda Creedence Clearwater Revival. Do pop nacional, sucesso para o pot-pourri de Tim Maia – a galera continua balançando fora do trem na sequência contagiante de “Vale Tudo”, “Não Quero Dinheiro” e “Descobridor dos Sete Mares”. A BSM é intimada a tocar “Deixa a Vida Me Levar”, de Zeca Pagodinho, e os fãs adoram a versatilidade do vocalista Ivan Carlos Costa Lima. Por isso, pedem repertório de Adele e a ópera “Mia Gioconda”. Quando o show chega perto do fim, é inevitável o pedido: “toca Raul!”. É. O Seixas. E eles tocam. Geralmente, “Ouro de Tolo”.
UM CANTOR ENCONTRA A SUA PLATEIA: ‘Não vou parar nunca’
Ivan Carlos Costa Lima, tem 27 anos, e é o cara que assume a frente do palco nas apresentações da BSM. Vocalista da banda, divide microfone com funcionários que costumam fazer participação especial. “Sempre tem um funcionário do Metrô que toca um instrumento ou canta bem e aí a gente chama para fazer show como convidado especial. Vem gente de outras áreas, fora da segurança. E aí, o projeto da BSM vai tomando outra proporção dentro da empresa também. A divulgação está cada vez maior”, conta Costa Lima. Nas redes sociais, o grupo já tem cerca de 3 mil seguidores.
A voz da BSM é um cara tímido, que começou a cantar aos 6 anos. “Eu tinha um gato que subiu na laje e caiu. Saiu sangue do nariz dele e eu fiquei apavorado. Minha mãe disse: ‘ora por ele que ele vai ficar bom’. Em pouco tempo, ele levantou, saiu andando, na boa. Então, minha mãe disse: ‘agora, você vai retribuir a bênção. Vai cantar na igreja’. E eu fui. Adoro cantar. Não vou parar nunca”, contou.
Costa Lima se emociona ao interpretar “Bridge Over Troubled Water” (imortalizada na voz de Elvis Presley). Ele fecha os olhos e se entrega. “Uma vez, perdi a concentração. Uma usuária do Metrô não parava de gritar ‘Casa comigo?’. Se era exagero, não sei. Mas é melhor do que ouvir reclamações”.
Próximo show
A BSM se apresenta no próximo dia 20 (quarta-feira), às 18h, na Estação Vila Prudente do Metrô, na Zona Leste de São Paulo. O show é gratuito e dura 1h15.
http://www.redebomdia.com.br
PLÍNIO DELPHINO
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