Entre os fatores está o congelamento das passagens após os protestos de junho do ano passado; empresas negam queda de qualidade
Relatórios internos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e do Metrô revelam que o prejuízo de ambas empresas administradas pelo governo estadual aumentou no ano passado. A gestão Geraldo Alckmin atribui o desempenho negativo, entre outros fatores, ao congelamento da tarifa em R$ 3 após os protestos de junho. Com isso, o repasse de dinheiro público às duas companhias teve de subir.
A subvenção para CPTM cresceu 43,7% em relação àquela concedida em 2012, de R$ 537,5 milhões para R$ 772,2 milhões. O Metrô informou não ter recebido subsídios diretos, só a compensação de gratuidades (a idosos, por exemplo).
O prejuízo não é incomum, já que o governo dá o aporte necessário para as empresas e banca investimentos como expansão da rede. Mas, neste ano, a perda operacional foi muito maior. No caso da CPTM, o prejuízo de R$ 507,4 milhões foi 133% maior do que o de 2012 (R$ 217,2 milhões). Já o Metrô registrou perda de R$ 76,4 milhões, mais do que o dobro do ano passado (R$ 28,4 milhões).
O relatório da CPTM revela que "a execução do orçamento do ano de 2013 foi prejudicada pela indefinição a respeito da aplicação do reajuste das tarifas do transporte". O Metrô credita a perda a problemas como "depreciação de bens, provisão para indenizações judiciais, receita e custo financeiro".
As duas companhias negam que a situação financeira cada vez mais apertada resulte em uma piora na operação e na segurança da rede de trens e metrô paulista. Mas o presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino de Melo Prazeres Júnior, discorda e diz que é preciso contratar para acabar com as horas extras. "As estações estão com um número extremamente reduzido de funcionários, colocando-os em risco. A empresa deve parar de gastar com coisas equivocadas, como reformas estéticas das estações."
Tarifa. Questionado semana passada pelo Estado, Alckmin disse que "não tem nenhuma notícia de aumento de passagem" neste ano. Desde o ano passado, a lógica de reajuste anual foi quebrada. O prefeito Fernando Haddad (PT) já prometeu não aumentar o ônibus em 2014. Além disso, Alckmin tem até o fim do mês para regulamentar lei aprovada por ele em outubro que diminui de 65 para 60 anos a gratuidade para homens na CPTM e no Metrô, o que deve ampliar os subsídios.
Relatório aponta que falhas nos trens aumentaram. O relatório administrativo da CPTM também revela que diminuiu a quantidade de quilômetros percorridos em média pelos trens entre cada falha no sistema, atingindo o patamar mais baixo em cinco anos. Em 2013, esse índice era de 3.345 km; no ano anterior, era de 4.080 km.
Ainda conforme o documento, o indicador "sofreu certa queda, pois no ano de 2013 venceram os contratos de serviços de manutenção dos trens aferidos por desempenho". Apesar dos novos contratos entrarem em vigência, "durante o período de adaptação das novas equipes, houve perda de eficiência no processo de manutenção" das composições. Segundo o texto, a tendência foi revertida em novembro e dezembro, mês em que o indicador atingiu a média de 4.431 km. / C.V.
Caio do Valle - O Estado de S.Paulo