Não é a primeira vez que todas as portas de uma composição se abrem sozinhas. Problemas de software guardam raízes nas fraudes para compra e reforma de trens
A composição do Metrô de São Paulo que descarrilou em 5 de agosto, nas proximidades da estação Palmeiras-Barra Funda, na Linha 3-Vermelha, voltou a sofrer uma pane “grave” na última quarta-feira (2). A falha colocou em risco novamente a vida dos usuários. Por volta das 18h30, na estação Santa Cecília, na mesma Linha 3, o trem K07 abriu sozinho todas as suas portas, em todos os vagões – inclusive no lado oposto ao da plataforma, onde fica o trilho energizado. A composição está recolhida desde então.
A ocorrência não foi divulgada publicamente, mas está registrada nos sistemas de segurança do Metrô. A informação foi obtida pela RBA com funcionários que não quiseram se identificar por medo de represálias. De acordo com os metroviários, bastava que os vagões estivessem lotados, como costuma ocorrer em horário de pico, e as pessoas cairiam à via, sujeitando-se a choques elétricos e lesões.
“O Metrô é uma companhia de muita sorte”, ironizou um funcionário, ao tomar conhecimento da ocorrência, lembrando do número crescente de falhas no sistema. Os servidores afirmam que o acaso voltou a ajudar a empresa porque a pane ocorreu enquanto o trem se deslocava no sentido Palmeiras-Barra Funda. Se estivesse na direção contrária, encaminhando-se ao terminal Corinthians-Itaquera, dizem, estaria abarrotado e o desfecho poderia ter sido diferente.
Histórico
A composição K07 pertence à frota K, reformada pelo consórcio MTTrens, integrado por MPE, Temoinsa e TTrans. A TTrans, líder do pool empresarial, é uma das companhias envolvidas nas denúncias de formação de cartel para burlar a concorrência em licitações para modernização de trens e ampliação da malha metroferroviária paulista. De acordo com documentos apresentados pela alemã Siemens ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), membros da administração tucana nos governos Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra teriam participado do conluio.
Dois meses antes de abrir sozinho todas as suas portas, o mesmo K07, por volta das 6h, descarrilava nas proximidades da estação Palmeiras-Barra Funda. A composição teve um de seus truques (termo técnico que designa o sistema composto por rodas, tração, frenagem e rolamentos) danificados devido a um superaquecimento que, por sua vez, fora provocado pela ausência de graxa nas engrenagens da peça.
Segundo membros da equipe de manutenção do Metrô, a peça danificou-se depois que membros da “assistência técnica contratada” – ou seja, a manutenção terceirizada – executaram procedimento equivocado na preparação da peça: eles teriam lavado o truque. A água molhou o rolamento, causando início de ferrugem e prejudicando a lubrificação. Isso deu início ao processo de desgaste e aquecimento que resultaria na quebra do eixo. Ao sair dos trilhos, o vagão foi arrastado por 800 metros e danificou a linha de alimentação elétrica do trem. Houve estouros, curto-circuitos e fumaça. Os passageiros saíram pela rota de fuga. Ninguém se feriu.
Foi um acidente jamais visto no Metrô de São Paulo. Depois de entrar para a história da companhia, o K07 foi retirado de circulação por um mês. A peça danificada permaneceu num dos pátios da companhia, coberta com lona e sob vigilância de seguranças patrimoniais. Nem o Sindicato dos Metroviários nem membros da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) puderam inspecioná-la. Tampouco receberam informações da empresa sobre a falha. Apenas em 5 de setembro é que tiveram conhecimento da versão oficial, pela boca de dois técnicos da Comissão Permanente de Segurança (Copese) do Metrô.
Na ocasião, durante reunião da Cipa, um dos membros da Copese garantiu aos metroviários: a possibilidade de que o K07 sofresse novos acidentes era baixa e, por isso, o trem seria liberado para operação. “Não há mais necessidade de permanecerem retidos”, afirmou o engenheiro, de acordo com a ata do encontro. “Não há interferência na segurança do sistema.” Pouco menos de um mês depois, na última quarta-feira (2), as portas do mesmo K07 se abririam automaticamente, colocando em risco a vida dos passageiros em pleno horário de pico.
Frota K
Outros trens da frota K também vêm apresentando falhas. Em 27 de agosto, a RBA noticiou que o Metrô coloca sistematicamente em circulação as composições reformadas pela MTTrens mesmo quando estão com defeito. Também foi publicado um levantamento informal realizado por metroviários da Linha 3-Vermelha que atesta: apesar de serem novos, os trens fornecidos pelas empresas do cartel – entre eles toda a frota K – apresentam quantidade de defeitos até quatro vezes maior que as composições antigas, com cerca de 30 anos de uso. Algumas chegam a registrar média de 35 problemas técnicos por dia.
Na semana passada, funcionários constataram que até mesmo os extintores de incêndio de alguns trens da frota K estão com a validade vencida pelo menos desde abril. “Houve um dia em que eu mesmo estava no K07 quando constatei que o sinalizador de falhas não estava funcionando. Poderia ocorrer qualquer problema que o operador não teria informação nenhuma”, denuncia um condutor da Linha 3-Vermelha do Metrô que também não quis se identificar temendo represálias – ainda mais agora que a companhia deu início a um programa de demissões como desculpa para manter a tarifa em R$ 3.
“Para piorar, fiz um teste e percebi que o botão de emergência, quando acionado pelo usuário, não tocaria nenhum alarme na cabine”, continua, apontando defeitos básicos na segurança do sistema. “Somando essas duas falhas, o trem poderia estar pegando fogo e o operador não saberia. O usuário tentaria informá-lo através do botão de emergência e não conseguiria, pois não se escutaria nenhum alerta na cabine. Essas falhas foram registradas. E são constantes.”
Procurada, a Companhia Metropolitano não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br
A composição do Metrô de São Paulo que descarrilou em 5 de agosto, nas proximidades da estação Palmeiras-Barra Funda, na Linha 3-Vermelha, voltou a sofrer uma pane “grave” na última quarta-feira (2). A falha colocou em risco novamente a vida dos usuários. Por volta das 18h30, na estação Santa Cecília, na mesma Linha 3, o trem K07 abriu sozinho todas as suas portas, em todos os vagões – inclusive no lado oposto ao da plataforma, onde fica o trilho energizado. A composição está recolhida desde então.
A ocorrência não foi divulgada publicamente, mas está registrada nos sistemas de segurança do Metrô. A informação foi obtida pela RBA com funcionários que não quiseram se identificar por medo de represálias. De acordo com os metroviários, bastava que os vagões estivessem lotados, como costuma ocorrer em horário de pico, e as pessoas cairiam à via, sujeitando-se a choques elétricos e lesões.
“O Metrô é uma companhia de muita sorte”, ironizou um funcionário, ao tomar conhecimento da ocorrência, lembrando do número crescente de falhas no sistema. Os servidores afirmam que o acaso voltou a ajudar a empresa porque a pane ocorreu enquanto o trem se deslocava no sentido Palmeiras-Barra Funda. Se estivesse na direção contrária, encaminhando-se ao terminal Corinthians-Itaquera, dizem, estaria abarrotado e o desfecho poderia ter sido diferente.
Histórico
A composição K07 pertence à frota K, reformada pelo consórcio MTTrens, integrado por MPE, Temoinsa e TTrans. A TTrans, líder do pool empresarial, é uma das companhias envolvidas nas denúncias de formação de cartel para burlar a concorrência em licitações para modernização de trens e ampliação da malha metroferroviária paulista. De acordo com documentos apresentados pela alemã Siemens ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), membros da administração tucana nos governos Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra teriam participado do conluio.
Dois meses antes de abrir sozinho todas as suas portas, o mesmo K07, por volta das 6h, descarrilava nas proximidades da estação Palmeiras-Barra Funda. A composição teve um de seus truques (termo técnico que designa o sistema composto por rodas, tração, frenagem e rolamentos) danificados devido a um superaquecimento que, por sua vez, fora provocado pela ausência de graxa nas engrenagens da peça.
Segundo membros da equipe de manutenção do Metrô, a peça danificou-se depois que membros da “assistência técnica contratada” – ou seja, a manutenção terceirizada – executaram procedimento equivocado na preparação da peça: eles teriam lavado o truque. A água molhou o rolamento, causando início de ferrugem e prejudicando a lubrificação. Isso deu início ao processo de desgaste e aquecimento que resultaria na quebra do eixo. Ao sair dos trilhos, o vagão foi arrastado por 800 metros e danificou a linha de alimentação elétrica do trem. Houve estouros, curto-circuitos e fumaça. Os passageiros saíram pela rota de fuga. Ninguém se feriu.
Foi um acidente jamais visto no Metrô de São Paulo. Depois de entrar para a história da companhia, o K07 foi retirado de circulação por um mês. A peça danificada permaneceu num dos pátios da companhia, coberta com lona e sob vigilância de seguranças patrimoniais. Nem o Sindicato dos Metroviários nem membros da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) puderam inspecioná-la. Tampouco receberam informações da empresa sobre a falha. Apenas em 5 de setembro é que tiveram conhecimento da versão oficial, pela boca de dois técnicos da Comissão Permanente de Segurança (Copese) do Metrô.
Na ocasião, durante reunião da Cipa, um dos membros da Copese garantiu aos metroviários: a possibilidade de que o K07 sofresse novos acidentes era baixa e, por isso, o trem seria liberado para operação. “Não há mais necessidade de permanecerem retidos”, afirmou o engenheiro, de acordo com a ata do encontro. “Não há interferência na segurança do sistema.” Pouco menos de um mês depois, na última quarta-feira (2), as portas do mesmo K07 se abririam automaticamente, colocando em risco a vida dos passageiros em pleno horário de pico.
Frota K
Outros trens da frota K também vêm apresentando falhas. Em 27 de agosto, a RBA noticiou que o Metrô coloca sistematicamente em circulação as composições reformadas pela MTTrens mesmo quando estão com defeito. Também foi publicado um levantamento informal realizado por metroviários da Linha 3-Vermelha que atesta: apesar de serem novos, os trens fornecidos pelas empresas do cartel – entre eles toda a frota K – apresentam quantidade de defeitos até quatro vezes maior que as composições antigas, com cerca de 30 anos de uso. Algumas chegam a registrar média de 35 problemas técnicos por dia.
Na semana passada, funcionários constataram que até mesmo os extintores de incêndio de alguns trens da frota K estão com a validade vencida pelo menos desde abril. “Houve um dia em que eu mesmo estava no K07 quando constatei que o sinalizador de falhas não estava funcionando. Poderia ocorrer qualquer problema que o operador não teria informação nenhuma”, denuncia um condutor da Linha 3-Vermelha do Metrô que também não quis se identificar temendo represálias – ainda mais agora que a companhia deu início a um programa de demissões como desculpa para manter a tarifa em R$ 3.
“Para piorar, fiz um teste e percebi que o botão de emergência, quando acionado pelo usuário, não tocaria nenhum alarme na cabine”, continua, apontando defeitos básicos na segurança do sistema. “Somando essas duas falhas, o trem poderia estar pegando fogo e o operador não saberia. O usuário tentaria informá-lo através do botão de emergência e não conseguiria, pois não se escutaria nenhum alerta na cabine. Essas falhas foram registradas. E são constantes.”
Procurada, a Companhia Metropolitano não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br