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1 de outubro de 2013

Aperte o cinto: o motorista está solto

Empresas de ônibus deixam sem uso computadores que permitiriam controlar o comportamento ao volante 

POR: Eduardo Athayde
Especial para o DIÁRIO

A terceira maior reclamação de quem anda de ônibus em São Paulo é o modo como os veículos são conduzidos. De janeiro a agosto deste ano, foram 8.790 reclamações contra motoristas que circulam de forma imprudente, acima da velocidade permitida. Das cinco maiores insatisfações dos usuários, quatro estão relacionadas à figura do motorista.

Mesmo sabendo dessa realidade, a SPTrans, autora do estudo, não se preocupou em fiscalizar a instalação de equipamentos comprados há dois anos ao custo de R$ 10,5 milhões capazes justamente  de monitorar eventuais excessos dos condutores dos ônibus.

A confissão foi feita  à CPI dos Transportes Coletivos da Câmara Municipal pelo  gerente operacional da Noxxon Sat Telecomunicações, Régis Freitas, empresa homologada desde 2006 pela Prefeitura para fornecer rastreadores de satélite  chamados AVL. As permissionárias são responsáveis pelos micro-ônibus que deveriam usar o aparelho.

Os novos AVLs iriam substituir modelos considerados ultrapassados. Sua principal tecnologia é o acelerômetro, que detecta se o motorista do micro-ônibus está conduzindo o veículo aos solavancos. “É evidente que a falta de um equipamento que detalha a maneira como o motorista dirige pode influenciar no comportamento dele”, disse o especialista em trânsito Horácio Figueira.

Os 4,4 mil equipamentos foram comprados a R$ 2,4 mil cada um pelas empresas. A frota dos permissionários é de 5.989 veículos. Os AVLs também permitem a interface com o letreiro eletrônico externo e com um contador de passageiros. À CPI, Freitas não informou por que as permissionárias não instalaram os equipamentos.

MONOPÓLIO/ O controle e a manutenção do Bilhete Único também causam desconfianças à CPI. Para a relatora, vereadora Edir Sales (PSD), há reduzido número de empresas no sistema. Por exemplo, a Prodata é responsável pela fabricação de cerca de 90% dos validadores dos bilhetes. Já a Digicon mantém a operação em funcionamento. Também são fornecedoras homologados, mas para mecanismos de monitoramento, a Cittati e a Noxxon Sat. “É um sistema só dominando o mercado”, disse a vereadora.

Entrevista com Paulo Fiorilo_ presidente da CPI dos Transportes
‘Empresas tiveram mais  R$ 1,8 bilhão em três anos’

Para o presidente da CPI dos Transportes Coletivos, Paulo Fiorilo (PT), os custos da folha de pagamento e do combustível são os pontos mais nebulosos do sistema de transporte público da cidade. Fiorilo classifica como “absurdo” o aumento dos aditivos repassados pela Prefeitura às empresas de ônibus. Entre 2010 e 2012, de acordo com a CPI, foram injetados, apenas por meio desse artifício legal, R$ 1,8 bilhão no sistema de transporte público.      

DIÁRIO_ Qual a situação mais grave que a CPI encontrou até agora nas investigações?

PAULO FIORILO_ São várias. Por exemplo, a quantidade de aditivos. No ano passado, foram R$ 800 milhões. Em 2011, R$ 600 milhões. Em 2010, R$ 400 milhões. Houve um crescimento absurdo. Isso é uma coisa que a Prefeitura precisa colocar travas. Você tem um custo do sistema, além desses custos aditivos.

As planilhas têm sido apontadas pela CPI como um fator obscuro no atual sistema de transportes da cidade. O que os senhores já perceberam sobre essa questão?

A gente já percebeu que a planilha tem erros. Ficou muito claro que os valores não são os reais. Isso é um indicativo de que é preciso fazer uma auditoria na planilha nos custos do sistema. (A Prefeitura abriu licitação para escolher auditoria). E quando eu falo de validadores e de AVLs, são itens menores. A discussão maior deve estar na folha de pagamento e combustível,  que é o que impacta nos custos da tarifa.

CPI não vai adiantar para nada, diz MPL  
Para o MPL (Movimento Passe Livre), a CPI dos Transportes Coletivos é um instrumento limitado que não  conseguirá mudar a engrenagem do sistema de transporte público da cidade. “Discursos técnicos (como os da CPI) não vão adiantar  nada”,  disse Monique Felix, integrante do MPL escolhida para representar o movimento na sessão da CPI que abordou a tarifa zero.

SPTrans opta pelo silêncio  
Procurada, a SPTrans preferiu o silêncio ao ser indagada sobre os motivos que levaram a autarquia a não fiscalizar a instalação dos AVLs.  Em uma nota, a empresa diz: “A SPTrans esclarece estar à disposição da CPI dos Transportes desde a sua instauração “. 

Sistema para ‘acelerar’ o Metrô também está atrasado

Comprado em 2008 por R$ 712 milhões como a grande aposta do Metrô de São Paulo para reduzir a superlotação das linhas, o novo sistema de controle dos trens – que poderia aumentar a velocidade das composições em até 20% – vai demorar pelo menos mais um ano para funcionar e não deve ficar pronto até a Copa do Mundo de 2014, em junho.

O novo controlador, chamado  CBTC (sigla em inglês para Controle de Trens Baseado em Comunicação), serve para aumentar a velocidade média dos trens e, consequentemente, o espaço entre eles – o que equivale também a um aumento de 20% na oferta de lugares nos horários de pico, diminuindo a lotação.

Os planos do Metrô eram aproveitar a reforma de 98 trens – um contrato de R$ 1,7 bilhão – para instalar os novos equipamentos nos vagões. Isso seria feito durante a reforma, enquanto os trens estivessem desmontados. Mas, com o atraso na instalação do CBTC, técnicos do Metrô são obrigados a fazer ajustes para que os vagões já reformados continuem rodando no sistema de controle antigo, chamado ATC.

CONTRATAÇÃO/ O Metrô contratou uma empresa terceirizada, a Ductor, para inspecionar a implantação do sistema. A empresa foi chamada  em março por R$ 9 milhões.

A tecnologia CBTC foi vendida ao Metrô pela empresa Alstom – agora acusada de pagar propina a agentes públicos do estado – como a grande solução para desafogar a lotação nas composições.

Segundo Altino Prazeres, presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, a Ductor não teria a mesma isenção para inspecionar a implantação do sistema como têm os técnicos próprios da empresa estadual.

O Metrô informou que a Ductor foi contratada, por licitação, para verificar se os equipamentos entregues pela Alstom estão de acordo com o projeto. A companhia disse que os testes deverão terminar até o fim do ano.


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