A investigação identificou um depósito de 181 000 reais em uma conta na Suíça em nome de um diretor da companhia de trens de SP e de sua filha
Dois ex-diretores da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) são o principal alvo das investigações sobre possível pagamento de propinas durante as fraudes em licitações cometidas em meio a um esquema de formação de cartel em licitações de obras do metrô e trens denunciado pela empresa alemã Siemens. Uma conta bancária na Suíça que recebeu depósito feito por uma das offshores de propriedade dos consultores Sérgio e Arthur Teixeira é a pista dos promotores.
O depósito de 181 000 reais estava na conta em nome de um diretor da CPTM e de sua filha. Outra conta seria ligada a outro diretor da empresa e também teria recebido depósitos das offshores Leraway e Gantown, que, por sua vez, mantinham contratos de consultoria com a Siemens no valor de até 5% de cada negócio fechado com governos no Brasil. Os contratos da alemã com as offshores seriam uma cobertura para justificar o pagamento de propinas para agentes públicos. Cópias desses documentos estão em poder da Polícia Federal (PF), que abriu inquérito na Superintendência de São Paulo para apurar o caso.
Os federais ouviram diretores e ex-diretores da Siemens. Buscam, a exemplo dos promotores do Ministério Público Estadual (MPE), provas de pagamento de propina, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito de agentes públicos. Documentos obtidos pela reportagem mostram que o cartel denunciado pela Siemens agiu em cinco casos, obtendo contratos com os governos de São Paulo e do Distrito Federal que, somados, chegam a 1,925 bilhão de reais (valores atualizados). Os papéis mostram que os governos podiam ter economizado até 30% desse total (557 milhões) caso o esquema não tivesse praticamente eliminado a livre-concorrência.
Suíça – É para obter os dados dessas contas bancárias de forma oficial que os promotores de São Paulo decidiram pedir à Justiça da Suíça os dados cadastrais e mais informações sobre essas movimentações suspeitas. Um dos interessados no caso recorreu da decisão do MPE em uma corte daquele país e, agora, o caso aguarda julgamento.
A suspeita é que o dinheiro tenha sido pago para que o cartel do trem obtivesse um contrato assinado ainda durante a gestão de Mário Covas (PSDB), de 1995 a 2001. O suposto esquema contrataria o trabalho de consultores – entre eles, as empresas Proscint e Constech – de propriedade dos irmãos Teixeira. A reportagem procurou Arthur, mas foi informado por sua secretária que ele estava viajando. Sérgio já faleceu.
Além da movimentação bancária dos diretores, os promotores e a PF têm em mãos documento do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no qual os supostos integrantes do cartel do trem se encontram com os irmãos Teixeira a fim de definir o resultado das licitações da CPTM S2100 (reforma de 48 trens) e S3000 (reforma de dez trens).
Os irmãos teriam decidido intervir no caso para resolver um conflito criado por um diretor da Siemens que tentou romper o acordo entre as grandes empresas – participavam do cartel nesse caso a Alstom, a CAF, a Mitsui, a Bombardier e Temoinsa. Ao término do encontro, ficou acertado que a Siemens receberia o contrato S3000 enquanto as demais dividiriam a S2100.
Leia no blog de Reinaldo Azevedo:
A área mais deletéria do governo Dilma é justamente aquela que deveria concentrar, como posso dizer?, a moralidade mais densa e a seriedade mais serena: o Ministério da Justiça. José Eduardo Cardozo, que foi muito competente em criar a fama de político sério, tem demonstrado um especial pendor para a chicana quando há questões que envolvem o estado de São Paulo — não por acaso, governado por um partido de oposição. Não perde uma única chance de aderir à politização mais rasteira, embora faça questão de vir a público para dizer que faz justamente o contrário do que pratica a céu aberto. Não receia o cinismo.
(Com Estadão Conteúdo)