Operador disse que a grua suspendia uma laje de quase 14 toneladas no momento do acidente
Dois operários morreram ao serem atingidos pelo guindaste na última sexta-feira, 22, na zona sul
O operador do guindaste de mais de 20 metros que caiu e matou duas pessoas em uma obra do Metrô de São Paulo, na última sexta-feira, 22, disse à polícia que a máquina apresentou falha mecânica. Marcos Penaforte, de 46 anos, prestou depoimento nesta segunda-feira, 25, de acordo com o delegado Armando Roberto Bellio, do 27.° Distrito Policial (Ibirapuera), zona sul, onde o caso foi registrado.
O acidente ocorreu no canteiro de obras da futura Estação Eucaliptos, em frente ao Shopping Ibirapuera.
José Exerei Oliveira Silva, de 39 anos, e Antônio José Alves Ribeiro, de 31, ambos operários da obra, morreram na hora.
Enquanto prestava depoimento, o operador parecia estar tranquilo, afirmou o delegado, por telefone, na tarde desta terça-feira, 26. "Ele disse que não teve nenhum tipo de desacerto da parte dele. Ele atribuiu (o acidente) a uma falha mecânica, mas só a perícia vai determinar o que foi."
Bellio disse que Penaforte afirmou trabalhar há cerca de 30 anos nesse tipo de atividade e que conhece bem o manuseio do aparelho. Ainda segundo o delegado, o operador relatou que a grua suspendia uma laje no momento do acidente. A estrutura teria 14 toneladas. Esse relato contradiz o que havia sido informado pela Defesa Civil da Cidade de São Paulo na semana passada, de que o equipamento não erguia nenhum tipo de peso antes de cair.
"O problema é que as versões diziam que ela não estava transportando nada, e agora há essa outra versão", disse Bellio. Ele já pediu mais informações sobre o guindaste à empresa que é sua proprietária, a Fundesp Fundações Especiais Ltda., sediada em Jandira, na Grande São Paulo. "Vou receber amanhã todo um prospecto informando as características da máquina."
O engenheiro da Fundesp responsável pelo equipamento também foi ouvido pela Polícia Civil. Segundo o delegado, Guilherme Munhoz, de 27 anos, afirmou que a última revisão da grua ocorreu em março e que não houve problema com ela. Para ele, a falha foi humana. "É um transferindo a responsabilidade para o outro", afirmou Bellio.
Técnicos ouvidos pela reportagem na semana passada disseram que o metal do guindaste aparentava estar retorcido em determinado ponto. Além disso, a estrutura seria velha.
Um vídeo com imagens gravadas por uma pessoa que passava perto do local logo após o acidente também poderá ajudar a elucidar a ocorrência. O material deve ser avaliado nos próximos dias pela polícia. O caso foi registrado como homicídio culposo.
No canteiro onde caiu o guindaste trabalham cerca de 140 pessoas, em turnos diferentes. O consórcio Heleno & Fonseca/Tiisa (Triunfo Iesa) é o responsável pela construção, que não foi paralisada devido às mortes. A Estação Eucaliptos ficará na extensão da Linha 5-Lilás, prevista para abrir em 2015 conectando Santo Amaro à Chácara Klabin, zona sul.
O Metrô informou em nota, na sexta, que lamenta as mortes e que prestará assistência às famílias das vítimas, além de "abrir sindicância para apurar as causas e responsabilidades do acidente". Procurada no início da noite desta terça-feira, a empresa não disse se os familiares dos mortos já foram indenizados.
Procurada, a Fundesp não retornou a ligação até a publicação desta reportagem.
Estadão