Não é de hoje, e não é exclusividade de São Paulo, que os carros são os mais privilegiados pelo poder público (ah, tem as empreiteiras também, mas essa é outra história). O governo federal baixa IPI para aquecer o mercado de automóveis, o estadual manda a PM proteger o trânsito deles e desce a bordoada em qualquer um que se opuser, e o municipal aumenta a tarifa do transporte público que deveria ser uma das soluções para tantos carros na rua.
Criado oficialmente em Porto Alegre no ano de 2005, o Movimento Passe Livre (MPL) se define como “movimento social autônomo, apartidário, horizontal e independente, que luta por um transporte público de verdade, gratuito para o conjunto da população e fora da iniciativa privada”. Suas manifestações já conseguiram redução de preços dos ônibus em Florianópolis e Salvador e sua atuação nacional já se espalhou pelas maiores capitais do país.
Nos últimos anos, São Paulo foi palco de vários atos do MPL e recentemente, quando a passagem de ônibus passou de R$ 3 para R$ 3,20, a cidade foi tomada por novas manifestações. Na quinta, 6 de junho, as avenidas 23 de Maio, 9 de Julho e Paulista foram fechadas, houve confronto com a polícia, depredações e o escambau (ver cobertura no site da Vice). Já havia outra manifestação marcada para o dia 11 de junho na Praça do Ciclista, mas o caos da quinta pediu outra em caráter de urgência que aconteceu ontem no Largo da Batata.
Nos dois casos, a cobertura da grande imprensa (principalmente a televisiva, sempre mais conservadora) bateu nas teclas do “transtorno” e do “vandalismo”, mal ouvindo as reinvindicações sérias e muito válidas do MPL. Transtorno? Mas a cidade vive parada por causa dos carros e ontem, por exemplo, o congestionamento foi “normal” para uma sexta-feira na hora do rush (e olha que a Marginal Pinheiros foi lindamente parada durante cerca de 40 minutos pelo ato que reuniu 5 mil pessoas). Enfim, não é possível fazer qualquer tipo de manifestação numa cidade grande como São Paulo sem causar algum tipo de transtorno.
Vandalismo? Em qualquer lugar do mundo existem idiotas e não é um ou dois malucos que deslegitimam todo um movimento. Vi integrantes do MPL entregando panfletos para os carros parados pela marcha, também os vi conversando com policiais para explicar o ato. Houve até uma nota de esclarecimento do MPL sobre os incidentes da quinta. Fico me perguntando... Porque as TVs e jornais não falam da violência policial que gerou o tal “vandalismo”? Ontem o Major PM Klinger, responsável pela operação, disse que se a marcha voltasse para a Av. Faria Lima todo mundo iria tomar tiro. Nada de conversa, de diálogo, nada próximo. Ouvi isso da boca dele após a PM atirar gás e “bombas de efeito imoral”. E não tinha grande imprensa ali.
Ah, e porque os entrevistados de sempre são os motoristas de carros e não os usuários de transporte público, já que o assunto é esse? Talvez essa distância dos meios de comunicação dos anseios da população e sua constante subserviência ao poder seja uma das razões de sua atual irrelevância.
Se é possível ou não ter uma tarifa zero para toda a população é uma discussão que tem ser colocada e o MPL está fazendo seu papel. Fernando Haddad, prefeito de São Paulo, disse ao Estadão que isso custaria R$ 6 bilhões e que isso seria muito difícil de ser custeado, mas que pretende conversar com a presidenta Dilma para aumentar o subsídio e diminuir o valor da passagem.
Porém, o mais importante de tudo isso é que são as manifestações da sociedade civil que colocam fogo nas mudanças. Se você reclama da educação no país, mas xinga quando os professores fazem greve por melhores qualidades de trabalho, você é um idiota. Se você reclama do transporte público, mas fica de mimimi com o trânsito criado pela manifestação, você é igualmente um idiota.
Não sei se o MPL vai conseguir a “tarifa zero”, mas lutas justas assim são importantes para todos pensarem a cidade que queremos.
p.s.: Altamente recomendáveis os textos de Leonardo Sakamoto (“Protestar não restringe o direito de ir e vir. Aumentar a tarifa de ônibus, sim”) e Lino Bocchini (“Protestar no Facebook não adianta. Tem que fechar avenida”).
Por Dafne Sampaio | Mexidão
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As notícias veiculadas acima, na forma de clipping, são acompanhadas dos respectivos créditos quanto ao veículo e ao autor, não sendo de responsabilidade do Blog Diário da CPTM
Criado oficialmente em Porto Alegre no ano de 2005, o Movimento Passe Livre (MPL) se define como “movimento social autônomo, apartidário, horizontal e independente, que luta por um transporte público de verdade, gratuito para o conjunto da população e fora da iniciativa privada”. Suas manifestações já conseguiram redução de preços dos ônibus em Florianópolis e Salvador e sua atuação nacional já se espalhou pelas maiores capitais do país.
Nos últimos anos, São Paulo foi palco de vários atos do MPL e recentemente, quando a passagem de ônibus passou de R$ 3 para R$ 3,20, a cidade foi tomada por novas manifestações. Na quinta, 6 de junho, as avenidas 23 de Maio, 9 de Julho e Paulista foram fechadas, houve confronto com a polícia, depredações e o escambau (ver cobertura no site da Vice). Já havia outra manifestação marcada para o dia 11 de junho na Praça do Ciclista, mas o caos da quinta pediu outra em caráter de urgência que aconteceu ontem no Largo da Batata.
Nos dois casos, a cobertura da grande imprensa (principalmente a televisiva, sempre mais conservadora) bateu nas teclas do “transtorno” e do “vandalismo”, mal ouvindo as reinvindicações sérias e muito válidas do MPL. Transtorno? Mas a cidade vive parada por causa dos carros e ontem, por exemplo, o congestionamento foi “normal” para uma sexta-feira na hora do rush (e olha que a Marginal Pinheiros foi lindamente parada durante cerca de 40 minutos pelo ato que reuniu 5 mil pessoas). Enfim, não é possível fazer qualquer tipo de manifestação numa cidade grande como São Paulo sem causar algum tipo de transtorno.
Vandalismo? Em qualquer lugar do mundo existem idiotas e não é um ou dois malucos que deslegitimam todo um movimento. Vi integrantes do MPL entregando panfletos para os carros parados pela marcha, também os vi conversando com policiais para explicar o ato. Houve até uma nota de esclarecimento do MPL sobre os incidentes da quinta. Fico me perguntando... Porque as TVs e jornais não falam da violência policial que gerou o tal “vandalismo”? Ontem o Major PM Klinger, responsável pela operação, disse que se a marcha voltasse para a Av. Faria Lima todo mundo iria tomar tiro. Nada de conversa, de diálogo, nada próximo. Ouvi isso da boca dele após a PM atirar gás e “bombas de efeito imoral”. E não tinha grande imprensa ali.
Ah, e porque os entrevistados de sempre são os motoristas de carros e não os usuários de transporte público, já que o assunto é esse? Talvez essa distância dos meios de comunicação dos anseios da população e sua constante subserviência ao poder seja uma das razões de sua atual irrelevância.
Se é possível ou não ter uma tarifa zero para toda a população é uma discussão que tem ser colocada e o MPL está fazendo seu papel. Fernando Haddad, prefeito de São Paulo, disse ao Estadão que isso custaria R$ 6 bilhões e que isso seria muito difícil de ser custeado, mas que pretende conversar com a presidenta Dilma para aumentar o subsídio e diminuir o valor da passagem.
Porém, o mais importante de tudo isso é que são as manifestações da sociedade civil que colocam fogo nas mudanças. Se você reclama da educação no país, mas xinga quando os professores fazem greve por melhores qualidades de trabalho, você é um idiota. Se você reclama do transporte público, mas fica de mimimi com o trânsito criado pela manifestação, você é igualmente um idiota.
Não sei se o MPL vai conseguir a “tarifa zero”, mas lutas justas assim são importantes para todos pensarem a cidade que queremos.
p.s.: Altamente recomendáveis os textos de Leonardo Sakamoto (“Protestar não restringe o direito de ir e vir. Aumentar a tarifa de ônibus, sim”) e Lino Bocchini (“Protestar no Facebook não adianta. Tem que fechar avenida”).
Por Dafne Sampaio | Mexidão
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