ESTAMOS EM MANUTENÇÃO

4 de abril de 2013

Mural: Manual prático do embarque no trem

Com fones no ouvido e a mochila nas costas, encosto no gradil –cercadinho, ou chiqueirinho da plataforma, como dizemos aqui em Guaianases, zona leste de São Paulo.

Vou me encaixando no meio da gentarada –pessoas que, agora, às 7h30, prefiro chamar de concorrentes. Astuto, dou microcotoveladas com o braço direito numa mulher de bolsa rosa. Sai pra lá, minha senhora, quero dizer.

Tento entrar na frente de um homem que, mais inteligente, me fecha a passagem. Não é bobo, claro. Deve ter anos de experiência em embarque de trem.

Alguns centímetros, poucos que eu consiga, podem me proporcionar um troféu dificílimo de conseguir em horários mais movimentados do dia: um lugar sentado no trem da linha 11-coral da CPTM.

O trem ainda nem entrou na plataforma e a ansiedade toma conta. Quase ultrapasso a linha amarela que resguarda a minha segurança, o que gera um olhar inquisitivo do segurança da CPTM. Nesses tempos de proibições governamentais, o melhor é me manter no meu lugar.

Quantas cotoveladas terei que dar para conseguir um lugarzinho?, penso. Chutes? Empurrões? Rasteiras desleais?

Talvez, quem sabe, se Deus quiser e alguém tropeçar à minha frente, vou me sentar. Confortável, vou poder cochilar por alguns minutos, ler um livro, entrar no Facebook, ou mesmo rir dos azarados que terão que dividir o metro quadrado em pé com outras 8,4 pessoas, segundo dados da própria CPTM.

O trem vem entrando na plataforma, lentamente. Aumenta a expectativa. Posiciono minha mochila na frente do corpo para que ela não fique presa e atrapalhe meu projeto de conseguir um banco vazio.

A composição para e as portas se abrem tão devagar que me dá nos nervos. E agora eu vou e vou, correndo e cotovelando. Aquele banco tem de ser meu, porra!

Seria, com certeza, não fosse a mulher da bolsa rosa me roubar, rápida, este primeiro troféu do dia. Ela se senta, e me olha, triunfante, como se quisesse me humilhar porque é mais habilidosa em matéria de embarque em trens. Se eu não fosse tão tímido, talvez começasse a chorar.

A vida não acaba hoje, minha senhora, muito menos a CPTM. Podemos tirar uma melhor de três no resto da semana, topa?

Leandro Machado, 24, é correspondente de Ferraz de Vasconcelos
@machadoleandro
lmachado.mural@gmail.com


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