Por André Jorge de Oliveira
O sistema de transporte deve começar a operar até o fim do ano que vem, com conclusão programada para 2016
Em um dos galpões industriais da empresa de transportes canadense Bombardier, dois esqueletos de “vagão” em processo de montagem estão suspensos sobre estruturas de vigas metálicas. “Não são vagões, são carros. Vagão é para carga”, diz Manuel Gonçalves, diretor geral da fábrica, corrigindo os jornalistas reunidos para conhecer o processo de construção do monotrilho. Daqui a um ano, se tudo correr conforme o cronograma, os “carros” estarão imersos na paisagem da capital paulista, no polêmico projeto do monotrilho da Zona Leste.
Os 378 carros do monotrilho da linha 15 – Prata do metrô virão de mais longe, da cidade de Hortolândia, a 20 minutos de Campinas. O projeto estipula 2016 como o prazo para ligar o bairro Cidade Tiradentes à estação Vila Prudente, da linha 2 – Verde, num total de 24 quilômetros e 17 estações. Mas já no fim do próximo ano, o primeiro trecho deve ser inaugurado, percorrendo os 2,9 quilômetros que separam a estação Vila Prudente da futura parada Oratório.
Para mensurar o impacto desse novo sistema no transporte da cidade, basta imaginar que um ônibus circulando no trecho entre a Avenida Jaguaré, na zona oeste, até a Avenida Paulista, de pouco mais de10 quilômetros, leva em torno de 40 minutos – se o trânsito não estiver muito ruim. Com o mesmo tempo, seria possível percorrer quase toda a extensão do monotrilho, estimada pelo fabricante em 50 minutos. Praticamente o dobro da distância. O ônibus transporta até 34 pessoas sentadas e 54 em pé, um total de 88 passageiros. Já o trem com traços futuristas carregará cerca de 15 passageiros sentados e 128 em pé, num total de 143 passageiros. Por carro.
A estimativa é que o serviço receba 500 mil usuários diariamente, algo como toda a população do Grajaú, bairro mais populoso da capital, somada aos moradores da Vila Mariana. Segundo o diretor de comunicação da Bombardier na América Latina, Luis Ramos, a linha vai ajudar a suprir a carência da região leste por transporte coletivo. “O principal problema das cidades é que houve um grande crescimento da população, mas não da infra-estrutura”, diz.
Para transportar um contingente tão expressivo, é preciso algumas inovações. A Bombardier, que também atua no ramo da aviação, trouxe tecnologia aeronáutica para reduzir o peso dos carros, e assim aumentar o número de usuários transportados. São 15 toneladas de alumínio, estruturadas em forma de colmeia. “É um truque para reduzir espaço e ganhar performance”, explica o diretor Manuel Gonçalves. O motor é de ímã permanente e fica dentro do cubo da roda de borracha, gerando um nível de ruído quase nulo.
A multinacional classifica o sistema como “de alta capacidade”, único no mundo com cara de metrô. Na China, um monotrilho carrega 30 mil pessoas por hora, e no Japão, 25 mil. No Brasil serão 40 mil pessoas por hora. “Um trem com a nossa capacidade é inédito”, explica Luis Ramos, que vê um futuro promissor para a exportação. A fábrica já tem encomendas de 12 carros para a Arábia Saudita, e as cidades de Belo Horizonte, Recife e Rio de Janeiro já demonstraram interesse. A meta para o auge de produção é de um carro pronto a cada dia. Se o monotrilho entregar tudo o que promete, a Zona Leste terá muito mais carros na garagem a partir de 2016. “O que é mais confortável, estar sozinho na sua ‘poltrona’ e ficar duas horas parado no trânsito, ou chegar em 50 minutos?”, pergunta Luis Ramos. Como se fosse preciso responder.
Na vida prática
O trecho completo do monotrilho está estimado em uma viagem de 50 minutos. Se você, assim como eu, opta por viajar na leitura enquanto, fisicamente, viaja pela cidade, talvez consiga ler dois capítulos (algo em torno de 20 páginas) de um livro como a Dança dos Dragões, quinto da série Crônicas de Gelo e Fogo, épico de George R.R. Martin muito comum entre usuários dos transportes públicos. Ou, se prefere ouvir música, talvez seja possível escutar do início ao fim um álbum de sua banda favorita.
Fonte: Revista Época