Gustavo Epifanio/Diário SP
POR: Eduardo Athayde
eduardo.athayde@diariosp.com.br
Uma coletiva na sede da Prefeitura de São Paulo, o prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) apresentaram oficialmente quinta de manhã o Bilhete Único Mensal.
No evento, as duas autoridades negaram que eventuais subsídios ao modelo possam resultar no aumento da tarifa do transporte público na cidade em 2014, atualmente em R$ 3. Em junho, após intenso clamor popular, a dupla revogou o aumento de R$ 0,20.
O Bilhete Único Mensal passará a valer no próximo dia 30. (veja no destaque como ele vai funcionar). Porém, menos de 20% de seu potencial está preenchido. Até ontem, segundo a Prefeitura, 141 mil usuários fizeram o cadastro necessário para ter acesso ao novo sistema de cobrança, em um universo estimado de 861 mil pessoas.
“A referência (com o uso do Bilhete Único Mensal) deixa de ser a ida ao trabalho e passa a ser de usufruir a cidade”, disse Haddad, sobre a possibilidade de andar de ônibus, Metrô e CPTM quantas vezes quiser no período de 30 dias ao preço de R$ 230.
cadê o bilhete?/ Apesar do clima de euforia dos políticos , nas ruas o que se vê é um sistema defeituoso. O Bilhete Único comum desapareceu dos pontos de venda das estações do Metrô Santa Cecília, Marechal Deodoro e Barra Funda, todas no Centro.
“Os cartões chegam às quintas-feiras de manhã. Mas a quantidade é tão pequena que em duas horas acaba tudo”, disse uma funcionária do ponto de venda da Estação Marechal Deodoro.
Situação similar foi flagrada na Barra Funda. “Chegou hoje (na quinta-feira) de manhã, mas acabou rapidinho. Agora, vai ter nova remessa apenas na próxima quarta ou quinta-feira”, disse a atendente.
Na Estação Santa Cecília, a funcionária do guichê limitou-se a dizer que não havia cartões à venda. “Não faz muito tempo esqueci o bilhete em casa e fui comprar um na Barra Funda, mas não tinha. Tive de comprar o bilhete unitário de papel e fiquei sem o direito de fazer a integração com o ônibus pagando menos”, reclamou a artesã Vanderléia Moraes Monteiro.
Em nota, a SPTrans informou que não foi avisada pela empresa terceirizada responsável pela venda do Bilhete Único comum sobre a falta de cartões para os usuários nas estações. A autarquia municipal também garantiu que “mensalmente abastece a cidade com cerca de 300 mil novos cartões”.
De acordo com a SPTrans, o número é suficiente para que não falte o bilhete nos postos de venda. “A distribuição de cartões é feita pela SPTrans diretamente às empresas autorizadas a vender crédito de transporte público e a gestão da quantidade direcionada para cada um dos pontos de recarga é feita pelas credenciadas.”
Já a Rede Ponto Certo, empresa que tem o direito de explorar a venda do Bilhete Único em São Paulo, também em nota, esquivou-se da responsabilidade e informou “que a emissão e o fornecimento dos cartões de Bilhete Único para as empresas credenciadas é de responsabilidade da SPTrans”. “Faltas de cartões podem ocorrer em momentos de picos, mas são repostos com urgência”, diz a empresa.
Análise
Horácio Figueira, consultor
Alguém vai ter de pagar a conta
Antes de mais nada, é preciso ressaltar que, apesar de tardia, a criação do Bilhete Único Mensal é uma boa novidade pois permite uma flexibilização do sistema, atualmente engessado a moldes por vezes ultrapassados. Portanto, trata-se de uma real tentativa das esferas municipal e estadual de ajudar a população que depende do transporte público para se locomover.
Apesar disso, tanto a Prefeitura como o governo do estado terão de aumentar o número de ônibus, trens e Metrô nos finais de semana. A adesão ao Bilhete Único Mensal valerá a pena, principalmente, para quem usar o modelo aos domingos e feriados, dias em que a frota é menor.
Obviamente, crescerá a demanda e, consequentemente, aumentarão os custos das empresas do setor, de pagamento de hora extra a combustível e manutenção técnica. Resta saber quem vai pagar essa conta.