ESTAMOS EM MANUTENÇÃO

20 de janeiro de 2014

‘Shopping Trem’ é a praia da CPTM

Adolescente fatura em torno de R$ 2 mil mensais com as vendas no trem
A prática de venda nos vagões é proibida. Tanto na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) quanto no Metrô sobram denúncias por meio de ligações ou mensagens de texto. Com as descrições dos infratores em mãos, seguranças se esforçam, tanto que  apreensões cresceram (veja ao lado). Mas o que se vê é um baile na fiscalização. O resultado é o comércio irregular de comes e bebes rolando solto dentro dos vagões. 

As linhas da periferia parecem ser as prediletas dos ambulantes. A 11-Coral, que liga as estações Luz a Estudantes, e a 12-Safira, que liga Brás a Calmon Viana, estão mais para um centro de compras. No caso, é um shopping: o “Shopping Trem”, como os vendedores apelidaram. “Shopping Trem, Shopping Trem, compre antes que o guarda vem (sic)” é o grito dos  “marreteiros”, como eles se autodenominam.

Na  quinta-feira, o DIÁRIO partiu da Linha 8-Diamante, na Lapa, foi até Suzano, retornou até Calmon Viana, desembarcou e pegou a Linha 12, descendo, em definitivo, no Brás. A movimentação dos ambulantes se intensificou em Ferraz de Vasconcelos, na região metropolitana. Um grupo de vendedores, aparentemente menores de idade, comercializava sorvete e gomas de mascar a R$ 1. 

A reportagem enviou três denúncias por meio do serviço SMS Denúncia da CPTM. Na estação seguinte, em Poá, dois agentes esperavam o desembarque dos passageiros. Espertos, os jovens se misturaram na multidão, driblaram a fiscalização e tomaram o vagão da frente. 

PROIBIÇÃO/  Segundo a companhia, vender alimentos nos trens e estações é proibido por lei desde 1996 (Decreto 1832/96). Quem for pego, tem a mercadoria apreendida e é registrada uma ocorrência interna. Os produtos são encaminhados às prefeituras ou ao Fundo de Solidariedade do estado. No caso de CDs e DVDs, como são produtos com origem na pirataria, os infratores são encaminhados às delegacias locais. Já no Metrô a mercadoria recolhida é encaminhada para a subprefeitura mais próxima da estação em que foi feita a apreensão.

Quem é contra, ouvida pelo DIÁRIO, alerta para a procedência dos produtos vendidos. Quem é a favor, diz que a venda é bem-vinda, já que há poucas opções para comprar  comida e água nas estações. “Não tem um bebedouro para a gente matar a sede neste calor”, reclama a estudante Kelly Katherine, de 17 anos. 

O discurso dos ambulantes é parecido. Dizem que é um trabalho honesto e, com o dinheiro arrecadado, ajudam a sustentar as famílias e vislumbram um futuro melhor.

Denúncias podem ser feitas por SMS
As empresas (CPTM e Metrô) contam com serviço de SMS nos quais os passageiros podem denunciar irregularidades nos sistemas. Na CPTM os usuários podem enviar uma mensagem pelo celular 97150-4949 ou ligando para o (0800) 055-0121 e no Metrô por meio do telefone 97333-2252. O serviço funciona 24 horas por dia, garante o anonimato do denunciante e dá mais agilidade à ação dos agentes, informou a Secretaria de Transportes Metropolitanos.

Descrever infrator ajuda na fiscalização
Para facilitar a atuação da segurança das empresas de transporte, o denunciante deve descrever as características do infrator, a mercadoria vendida, o número vagão, a linha e a próxima estação.

Para a estudante Laisa Correa, 18 anos, o valor das mercadorias é outro atrativo. “Eles vendem geralmente pela metade do preço”, disse. “São uns pobres coitados que não têm alternativa. Se preciso, compro tudo deles”, afirmou o soldador Paulo Roberto Lima.

A pasta alerta também para os perigos de se consumir alimentos de origem ilegal. “Ao adquirir mercadorias sem comprovação de procedência,  pode haver problema de saúde e com a polícia.”

Entrevista 

B. S., 17 anos, ambulante

‘Quero sair logo desta vida porque me sinto humilhado’

Há cinco anos trabalhando como ambulante nas linhas da CPTM, o adolescente B. S. conta que ganha cerca de R$ 4 mil. Apesar do bom rendimento, ele quer largar o trabalho e, com a poupança de R$ 13 mil, começar a cursar direito.

DIÁRIO_  Por que você começou a vender alimento nos trens?
B.S._ É uma forma de eu ajudar minha família. Pago água e luz e guardo meu dinheiro.

Quanto você já juntou?
Uns R$ 13 mil em cinco anos. Guardo tudo na poupança. Já pensei em comprar moto, mas vou fazer faculdade.

Quanto você guarda de dinheiro por mês?
Por volta de R$ 1.700, R$ 1.800. Não tenho namorada, não uso drogas, então consigo guardar bastante.

Onde você adquire as suas mercadorias?
Todos os dias vou ao Brás (Centro) e compro.

O que você vai estudar?
Direito. Quero ser policial civil.

Vai abandonar o trem?
Quero sair desta vida. Consigo um bom dinheiro como “marreteiro”, mas me sinto humilhado às vezes.

Você foi humilhado pelos seguranças?
Esses a gente está acostumado. Já perdi (teve a mercadoria apreendida) quatro vezes em um dia. Mas já cheguei a ganhar R$ 500 em outro. 

Todos os seguranças são agressivos?
Nem todos. Alguns a gente até conhece.

Você trabalha para alguém?
Não.

Trabalha em conjunto com outros ambulantes?
Não tenho sócio. Aqui é cada um por si.

Como administram a concorrência, já que são muitos?
São muitos vagões. Desde que não estejamos vendendo o mesmo tipo de mercadoria, podemos estar ao mesmo tempo em um vagão.

Já viu crianças serem exploradas por adultos nesse tipo de trabalho?
Sei que existe, mas nunca vi. O que eu já vi foi adulto com criança no colo. Acho errado. É apelar demais.

Onde prefere trabalhar: no Metrô ou trens da CPTM?
Na CPTM é bem mais fácil. O Metrô é rígido demais e tem mais fiscalização.

Folha de SP

Página: Oficial Diário da CPTM

Twitter @diariodacptm