ESTAMOS EM MANUTENÇÃO

31 de maio de 2013

Artigo: Promessas na CPTM nem sempre são mantidas

Sou do tempo em que os trens eram piores do que hoje em dia. Se você reclama dos trens de hoje é porque nunca andou nos de antigamente onde o chão era furado e eles trafegavam com as portas sempre abertas. Ainda por cima era a época dos temidos arrastões, dos surfistas de trens e das baratas, muitas baratas!

Arrumei meu primeiro emprego de "gente grande" em São Paulo, em 1993. Com o medo natural de uma novata nessas aventuras de trem por já ter ouvido tantas desgraças, jurei de pés juntinhos (e não tinha como não estarem juntos), na primeira viagem, que nunca, mas nunca mesmo iria dormir no trem. Consegui seguir essa promessa por uns dois dias, mas depois minhas juras foram por trilho abaixo. Ao voltar de um dia cansativo e que estava muito calor, consegui milagrosamente sentar e em alguns minutos, Morfeu me abraçou com vontade, daquele jeito que sua boca abre tanto que fica parecendo uma caçapa e prontamente, parti para uma longa cochilada.

Você acha que ali é sua caminha gostosa, quentinha e perde a noção do tempo. Quando estava sonhando com um trem vazio só para mim, fui acordada aos berros por uma senhora à minha frente: "Moçaaaaaa, tem uma barata na sua blusa!!!!". Abri meus olhos ainda sem saber onde estava e quem era, mas sem perder a compostura, olhei para minha blusa e tinha "Aquela" barata. Argh!!! Não tive dúvidas, dei um peteleco na meliante e ela foi rodando por várias outras blusas.

Foi o verdadeiro caos naquele trem! Só dava para ouvir os berros de todo mundo, até que ela sumiu, provavelmente esmagada no meio da multidão. Foram momentos tensos onde virei o centro das atenções, só que como tudo no trem, logo surgiu outra situação e essa ficou no esquecimento. Assim que isso acabou, lembrei-me da minha promessa de não dormir e a refiz mentalmente umas dez vezes. Bastou um chacoalhão do trem e uns minutos para novamente o ronco e a baba se fazerem presentes.

Novamente, deixei-me levar em um sono profundo e aconchegante até a próxima barata aparecer. É, no trem, nem o medo consegue manter nossas promessas por muito tempo! Bons sonhos!

Andréia Garcia é coordenadora de projetos em ERP e autora do blog www.aviajantedotrem.com.br.