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1 de março de 2014

Movido por novo sistema, trem do Metrô 'desembesta' para fim da linha em SP

J49 circulando na Linha 2-Verde 
Comprovada por relatório, falha não é nova, mas se repete na estação Vila Prudente só quatro dias depois de governo ignorar recomendação do Ministério Público

Segundo relatório do Metrô, problema mais recente com sistema CBTC ocorreu em Vila Prudente

Um trem do Metrô de São Paulo, comandado pelo novo sistema de sinalização e operação das composições, conhecido como CBTC, descambou na última segunda-feira (24) em direção ao paredão que existe depois da estação Vila Prudente, um dos terminais da Linha 2-Verde. Só não houve colisão porque o condutor agiu rapidamente, aplicando freio de emergência. O incidente ocorreu em horário de pico, às 8h, e havia passageiros na composição.

A falha, que não é inédita, ocorreu apenas quatro dias depois de o Metrô ter contrariado recomendação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e decidido continuar com a instalação da nova tecnologia, contratada junto à Alstom por R$ 726 milhões. A informação consta em documento interno do Metrô, conhecido como Relatório de Ocorrência Técnica, ao qual a RBA teve acesso.

Na descrição do incidente, o condutor explica que o trem estava se aproximando normalmente da estação Vila Prudente, reduzindo a velocidade, quando, ao chegar na metade da plataforma, acelerou sozinho. O metroviário puxou a alavanca de frenagem e conseguiu parar a composição cerca de dez metros além do devido: é o que se conhece como “parada longa”, ou seja, quando o trem cessa movimentos depois dos limites da plataforma.

No relatório, o operador afirma que essa diferença correspondeu ao comprimento de um vagão. Condutores ouvidos pela RBA afirmam que o espaço entre a estação Vila Prudente e o para-choque que sinaliza o fim da linha é de, no máximo, três vagões. Como o trem ficou desalinhado com a plataforma, nem as portas do trem nem as da plataforma se abriram.

As três estações mais novas da Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo – Sacomã, Tamanduateí e Vila Prudente – possuem portas de plataforma, assim como ocorre em toda a extensão da Linha 4-Amarela. Elas só puderam ser abertas por um dispositivo de emergência, acionado pelo funcionário da estação. Então, um manobrista assumiu o comando do trem na cabine contrária, alinhou a composição e procedeu ao desembarque de passageiros. Com a situação regularizada, novos usuários embarcaram e prosseguiram viagem.

A composição avariada é nova: é conhecida como G14 e pertence à frota G, fornecida pela Alstom entre 2008 e 2010. A empresa francesa também é responsável pelo desenvolvimento e instalação do CBTC (sigla para Communication Based Train Control) na Linha 2-Verde. Apenas as estações Sacomã, Tamanduateí e Vila Prudente operam com CBTC em tempo integral, todos os dias da semana. Mas testes com o novo sistema ocorrem em toda a extensão da linha, aos domingos.

Falhas são comuns. Em Fevereiro, ao menos três panes acometeram o CBTC na Linha 2-Verde. Duas delas ocorreram aos domingos, nos dias 9 e 16 de fevereiro. Na ocasião, trens sumiram das telas do Centro de Controle Operacional (CCO) do Metrô, provocando uma situação de risco conhecida como “trens fantasmas”. O defeito levou a paralisações que duraram 17 e 40 minutos, respectivamente.

Até onde se sabe, o problema registrado na estação Vila Prudente na última segunda-feira (24) é o mais recente no histórico de falhas do CBTC. Mas não é a primeira vez que trens movidos pelo sistema da Alstom desembestam rumo ao fim da linha. Denúncias de metroviários apontam que o mesmo incidente ocorrera “pelo menos cinco vezes” em 2011 e 2012, no início da fase de testes.

Falhas e atrasos na implantação do sistema motivaram o promotor Marcelo Milani a recomendar que o Metrô suspendesse os contratos com a empresa francesa. A companhia, porém, “diante da ausência de elementos ou indícios suficientes de irregularidades”, decidiu continuar implementando a tecnologia.

O governo do estado de São Paulo já desembolsou R$ 490 milhões com o CBTC. Em contrapartida, a Alstom já pagou R$ 77 milhões em multas contratuais devido aos atrasos e problemas na instalação do sistema. Devido a irregularidades, os pagamentos estão suspensos há cerca de um ano. A questão é razão de disputa entre a multinacional e o poder público paulista.

A Alstom é investigada por corrupção no fornecimento de equipamentos elétricos à Empresa Paulista de Transmissão de Energia (EPTE) e formação de cartel em contratos metroferroviários com o governo estadual, ambos em conluio com membros da administração tucana. A promotoria estima que o esquema, conhecido como “propinoduto tucano”, tenha desviado R$ 800 milhões para alimentar o caixa dois do PSDB e partidos aliados.

Procurado, o Metrô não desmentiu a falha da última segunda-feira (22). “O Metrô esclarece que não há registros de ocorrências que tenham comprometido o desempenho do sistema CBTC e a segurança operacional do trecho entre as estações Vila Prudente e Sacomã, extensão da Linha 2- Verde”, afirmou a companhia, em nota.

por Tadeu Breda, da RBA publicado 27/02/2014 16:49, última modificação 28/02/2014 14:22