Apesar da condenação, ele não foi preso, beneficiado por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF). O júri foi realizado no Fórum de Mogi das Cruzes, onde ocorreu o crime.
Uma das vítimas morreu na queda.
A sentença lida pela juíza Renata Vergara Emmerich de Souza saiu por volta de 1h45. O júri foi formado por cinco homens e duas mulheres.
Parizatto é o segundo réu do processo a receber a condenação. Em maio deste ano, os jurados condenaram Juliano Aparecido de Freitas, conhecido como “Dumbão”, a 24 anos de prisão. Danilo Gimenez Ramos, o terceiro acusado pelos crimes, aguarda julgamento, ainda sem data fixada.
Por volta de 21h30 de 7 de dezembro de 2003, Cleiton da Silva Leite,que tinha 20 anos, e Flávio Augusto Nascimento Cordeiro, então com 15 anos, estavam com uma amiga e a noiva de Leite na Estação Brás Cubas, em Mogi. Depois que a composição entrou, de acordo com a acusação, os jovens foram abordados pelos três réus que obrigaram os amigos a pular do trem em movimento sob os gritos de “ou pula ou morre”. Na queda, Leite teve traumatismo craniano e morreu. Cordeiro perdeu o braço direito.
Inocente
Durante o julgamento, acompanhado pela família das vítimas e de Parizatto, o réu alegou inocência, dizendo que “ninguém sabia o que estava acontecendo. Parecia brincadeira mesmo. Depois, o tumulto se dispersou”, relatou ele, referindo-se à confusão no penúltimo vagão da composição de onde as vítimas se atiraram pela janela. Ele negou conhecer Leite e Cordeiro.
Ao contrário do que afirmou o Ministério Público, o analista de sistemas negou ser “skinhead”. As vítimas foram descritas como integrantes do movimento punk. Em determinado momento do interrogatório, chorou. “Eu não aguento mais esse sofrimento, eu quero trabalhar, estudar. É uma prisão sem muros”, disse o réu.
De acordo com o promotor Marcelo de Oliveira, Parizatto e os outros acusados são beneficiados por habeas corpus no STF desde 2005.
Cinco testemunhas foram ouvidas ao longo da sessão, que teve início por volta de 13h. A única de defesa – as outras eram comuns à defesa e à acusação – foi a mãe do analista de sistemas, Sandra Barreto Parizatto. Ela disse acreditar na inocência do filho.
Flávio Cordeiro, que perdeu o braço direito, foi o primeiro a falar. Afirmou que os réus agiram juntos e gritaram “ou pula ou morre” para ele e o amigo.
Acusação
Na fase dos debates, o promotor Oliveira foi o primeiro a tentar convencer os sete jurados da culpa do réu, às 19h30. Falou por uma hora e meia. Chegou a mostrar a eles armas que costumam ser usadas por grupos skinheads, como soco inglês e tchaco. De acordo com ele, os objetos pertencem a Dumbão, o primeiro condenado, e foram entregues à polícia pelo pai dele na época dos fatos.
Quando Oliveira chamou o réu de skinhead, o analista de sistemas, cabisbaixo, mexeu a cabeça negativamente. Fez o mesmo quando o promotor o descreveu como “homicida”.
Oliveira pediu que os jurados condenassem Parizatto afirmando que ele cometeu uma “atrocidade”, uma “barbaridade” e lembrou que ele e os outros acusados estão livres há seis anos, inclusive Dumbão. “Eles acabaram com a vida do Cleiton e do Flávio por preconceito, ódio, desrespeito ao diferente”.