O presidente da Alstom no Brasil, Philippe Delleur, afirmou que fazer trens regionais de média velocidade em São Paulo seria o caminho "mais seguro e curto" para o Brasil chegar ao trem-bala.
Em entrevista à Folha, Delleur disse que o adiamento do leilão, que deve ser anunciado hoje, será "excelente decisão". "Mas não serve para nada adiar a cada três meses, se não mudar nada", disse Delleur, desde 2009 o principal executivo da Alstom no país.
Para ele, o problema está nas obras civis. As empreiteiras nacionais, disse, indicam que o valor dado pelo governo está subdimensionado. O projeto total está estimado pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) em R$ 33,1 bilhões, sendo cerca de R$ 28 bilhões (valores de dezembro de 2008) em obras e desapropriações.
Delleur afirmou que as empresas já estão com dificuldades para conseguir recursos próprios, "equity", para ingressar como sócias. E, caso a obra fique mais cara que o previsto, serão necessários mais recursos próprios ou financiamento. O BNDES pode financiar até R$ 20 bilhões.
"Nossas conversas com investidores indicam que é muito difícil achar um valor tão grande de "equity" privado. Os investidores financeiros não vão colocar dinheiro se não houver um grande esclarecimento sobre o projeto. E, se o orçamento não é R$ 33 [bilhões], é R$ 50 [bilhões], aumenta o tamanho do problema a ser resolvido."
Mudanças pedidas por parte dos interessados na nacionalização do trem, para Delleur, são inúteis. Segundo ele, o que está no edital poderia até ser aumentado como forma de incentivar a indústria ferroviária nacional.
O tempo a mais até a nova data do leilão também será usado para fazer novos estudos sobre as conexões com outros sistemas de transportes, principalmente em São Paulo. Como é essencial que a linha de alta velocidade seja integrada, Delleur defende os trens regionais.
Teste da demanda
Pelos estudos, cerca de 70% da demanda do trem-bala virá de ligações entre as cidades paulistas. Por isso, diz, o ideal seria testar um sistema ferroviário nessas ligações, conhecer a demanda real e, só depois, passar para os trens de maior velocidade.
"Grande parte da demanda não fica entre SP-RJ, mas em volta de São Paulo. O projeto deveria trazer resposta a essa demanda existente e, para isso, o regional pode ser rapidamente feito, em três a quatro anos, captar a demanda, estabilizar e usar esses recursos para continuar o projeto de alta velocidade."
O governo paulista tem projeto para quatro linhas regionais, ligando a capital a Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Santos. Segundo a Secretaria de Transportes Metropolitanos, com o trem-bala, Campinas e São José estariam contempladas, e o governo paulista se concentraria nas outras duas.
Os trens regionais têm velocidades máximas de 250 km/h, enquanto os de alta operam a até 350 km/h. Fonte:Folha de S.Paulo
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