A Estação USP–Leste da CPTM será a primeira estação de trem no mundo a obter a certificação internacional LEED(*).
(*) LEED - Leadership in Energy and Environmental Design
Quem utiliza os trens na cidade de São Paulo, talvez não saiba que a CPTM está trilhando os caminhos da sustentabilidade e da preservação ambiental.
A Companhia iniciou os trabalhos de obtenção da certificação LEED para a Estação USP Leste, situada na Linha 12-Safira, certificação que analisa, em seis diferentes níveis, o grau de comprometimento ambiental de sua operação e manutenção.
Os níveis de sustentabilidade são: Sítios Sustentáveis; Consumo Eficiente de Água; Energia e Atmosfera; Materiais e Recursos; Qualidade Ambiental no interior do edifício, e Inovação nas Operações. O LEED é uma organização não-governamental, situada nos Estados Unidos, que certifica prédios sustentáveis ao redor do mundo.
O órgão define que um prédio é sustentável se comprovar que possui: uso eficiente da água; consumo racional de energia elétrica; utiliza produtos e suprimentos produzidos com compromisso ambiental; que possua estratégia de destinação e reciclagem de seus resíduos; que tenha qualidade ambiental de vida no interior do edifício, e, finalmente, que agregue valor ao meio em ue se insere.
O prédio também deve estar de acordo com todas as legislações municipais, estaduais e federais, citando como exemplo a gestão de efluentes, uso do solo, restrição ao uso de amianto, proibição de fumar nas dependências da estação, entre outros. A certificação poderá ser revogada a qualquer momento, caso se verifique o descumprimento de qualquer um dos dispositivos legais incidentes.
A Secretaria dos Transportes Metropolitanos (STM) determinou à CPTM que certificasse a Estação USP– Leste na certificadora internacional LEED, na modalidade E/B (Existing Buildings) para prédios existentes. O processo de certificação é uma ação voluntária, parecida com a certificação ISO. O aprendizado decorrente da certificação LEED da Estação USP–Leste poderá se tornar parâmetro de projeto e construção para as demais estações da Companhia e também para outras estações de trem ao redor do mundo.
A Estação USP–Leste poderá ser a primeira no mundo a obter este certificado, cujos critérios são definidos e auditados pelo USGBC (United States Green Building Council). A estação, construída há cerca de três anos, foi escolhida para ser certificada, porque o seu projeto original já continha inúmeros itens de sustentabilidade, tais como uso de água da chuva para acionamento das descargas dos banheiros, iluminação e ventilação natural nos banheiros, acessibilidade para pessoas com restrições de mobilidade, torneiras com sistema temporizado, entre outros.
O LEED classifica as construções em quatro níveis: Certificação Simples (de 40 a 49 pontos), Prata (de 50 a 59 pontos), Ouro (de 60 a 69 pontos) e Platina (80 ou mais pontos). Cada ponto citado se refere a itens de sustentabilidade observados no prédio. O projeto original da estação, como foi idealizado, já possuía 20 pontos, apesar de que na época não se cogitava obter a certificação.
A USP–Leste receberá adequações no interior do prédio, aumentando seu nível de sustentabilidade, com o objetivo de alcançar o nível Prata de Certificação. As reformas a serem feitas incorporarão mais 35 pontos, necessários à certificação Prata. Como exemplos dos itens de sustentabilidade da estação visando obter a certificação, estão:
Sítios Sustentáveis: apresentação de um plano de gerenciamento de áreas externas contra pragas e erosões; incentivo ao uso de transporte coletivo; controle de vazão de águas pluviais; redução da “Ilha de Calor” e adequação da cobertura através da pintura do teto da estação na cor branca, melhorando as condições térmicas de quem está sob este telhado, atendendo às recomendações da ONG – “One Degree Less”.
Racionalização do consumo de água: captação, cloração controlada e uso da água de chuva para combate a incêndio, descargas nos sanitários e lavagem da estação; metais sanitários eficientes nos banheiros; uso de mictórios que dispensam o uso de água para descarga e que não exalam cheiro; paisagismo eficiente com espécies nativas, de baixo custo e com baixa necessidade de irrigação, mesmo que utilizando água da chuva armazenada. Este paisagismo levou em consideração os aspectos climáticos e da flora da região onde a estação está situada – no Parque Estadual do Tietê (PET.)
Racionalização do consumo de energia: este item é o que mais pontua na análise do LEED, por considerar que o consumo deste bem natural importantíssimo está cada vez mais scasso. Outros dispositivos de redução de consumo de energia estão em análise para verificar sua aplicabilidade em uma estação de trem, tais como o uso de iluminação zenital, usando o sol como fonte de iluminação, e postes de iluminação nas áreas externas utilizando tecnologia LED.
Uma pesquisa realizada com o objetivo de verificar o uso e ocupação das escadas rolantes ao longo do dia verificou que, em alguns horários, estas escadas funcionamvazias. Esta observação levou à proposta da instalação de sensores de presença e redutores de potência, gerando uma significativa redução do gasto de energia, evitando desperdícios de energia e aumentando a vida útil deste equipamento.
Materiais de Reuso: o processo de certificação verifica, neste item, todos os produtos utilizados na operação e manutenção do prédio, sua procedência, aplicação, com grande nível de etalhe. Deve-se pesquisar se o fornecedor respeita aspectos ambientais na sua produção e se esta indústria possui algum tipo de certificação ambiental. Não se pode certificar uma estação se ela utiliza, por exemplo, produtos produzidos com mão de obra infantil ou trabalho escravo. Outro item a ser observado é a reciclagem dos resíduos da estação.
Contrato firmado entre a CPTM e uma cooperativa de catadores garante que o lixo separado e recolhido na estação seja reciclado, mesmo que não haja este tipo de coleta seletiva na região. O que está em funcionamento em USP–Leste, em termos de reciclagem, está sendo replicado para outras estações da região. Além do lixo reciclado, existe o aspecto socioambiental da atividade.
Qualidade interior do prédio: não se pode certificar um prédio sem considerar os itens de conforto e segurança para os funcionários que lá trabalham e também para os demais suários dos trens e da estação. Dentre os itens que poderão ser revistos, citamos os aspectos ergonômicos do mobiliário, controles de temperatura, iluminação e ventilação de áreas de trabalho fechadas, como as bilheterias blindadas e as Salas Operacionais e outros aspectos de conforto.
Inovações nas operações: além dos itens determinados pelo LEED, outros itens de sustentabilidade poderão ser agregados à estação, pontuando no contexto da certificação. Cito, como exemplo, a oportunidade de contribuir com visitas programadas à estação, dirigidas para o público interessado em questões ambientais, tais como alunos de faculdades.
Arquiteto José Heitor do Amaral Gurgel