Segundo a Uber, as mudanças foram baseadas em pesquisas com usuários e em análises do mercado automotivo, buscando atender às preferências dos passageiros em relação a conforto, aparência e confiabilidade dos carros. No Uber Black, por exemplo, serão exigidos veículos de determinadas cores e padrões de fabricação, além de um mínimo de 100 viagens concluídas. Modelos como Renault Kardian, Citroën Basalt, Chery Tiggo 3X e Hyundai Kona Hybrid deixarão de ser aceitos.
No Uber Comfort, as exigências variam conforme o modelo do veículo, mas alguns, como o Renault Logan, sairão completamente da categoria até meados de 2026. A mudança tem gerado críticas entre motoristas, que apontam falhas na comunicação e impactos financeiros diretos, especialmente para quem adquiriu recentemente um carro para se enquadrar nas categorias premium.
Para especialistas em mobilidade urbana, atualizações periódicas são naturais nesse tipo de serviço, mas é essencial garantir clareza e tempo de adaptação aos motoristas. Embora o objetivo seja elevar o padrão de qualidade e segurança das corridas, o desafio está em não comprometer a renda dos profissionais que dependem da plataforma.
Um levantamento do GigU mostra que motoristas que faturam entre R$ 77 mil e R$ 103 mil por ano — trabalhando cerca de 50 a 60 horas semanais — têm lucro líquido estimado entre R$ 28 mil e R$ 51 mil após os custos com combustível, manutenção, impostos e seguro. Ou seja, mesmo com ganhos brutos expressivos, a margem real continua apertada.
Para Luiz Gustavo Neves, cofundador e CEO da fintech, o cenário reforça a necessidade de políticas públicas que acompanhem o avanço das plataformas digitais. "A flexibilidade, embora atraente, muitas vezes vem acompanhada da ausência de benefícios formais, estabilidade e proteção previdenciária. É preciso equilíbrio entre inovação, geração de renda e proteção ao trabalhador", afirma.
O ponto central das mudanças está justamente em conciliar a expectativa de um serviço mais sofisticado com a viabilidade financeira de quem o oferece — sem transformar o aprimoramento da experiência do passageiro em um prejuízo para o motorista.