Por Vitor Queiroz, para o Não Surto
Baseado em reportagem do Estadão Mobilidade
A diversidade na configuração dos assentos nos vagões de trem e metrô da capital paulista reflete não apenas preferências das operadoras, mas também normas técnicas rigorosas que priorizam conforto mínimo e acessibilidade. De arranjos mistos a opções totalmente longitudinais, as diferenças visíveis em linhas como as da CPTM, Metrô e ViaQuatro atendem a projetos específicos, sempre alinhados à legislação nacional.
A reportagem consultou concessionárias e especialistas para desvendar o que rege essas decisões. "Tudo isso é guiado pelo projeto de cada empresa, mas o final deve obedecer a uma norma para oferecer o mínimo de conforto", explica o contexto geral das configurações.
Normas ABNT: O pilar do design
Central nessa equação está a ABNT NBR 14183, norma de 2015 que estabelece parâmetros para projetos de transportes metroviários em todo o Brasil. Ela exige que pelo menos 15% da capacidade total de passageiros por vagão seja ocupada por assentos. Para ilustrar, em um carro que acomoda 200 pessoas, ao menos 30 devem ter lugar sentado.
Complementando, a ABNT NBR 14021 impõe restrições ainda mais estritas no campo da acessibilidade. "Algumas normas de piso, padronização de portas e espaços vazios para que cadeiras de pessoas com deficiência possam girar no mínimo 180º são mais rígidas que as normas de conforto gerais", afirma Luis Kolle, presidente da Associação de Engenheiros e Arquitetos do Metrô de São Paulo (AEAMESP).
Essas regras não só garantem equidade, mas também influenciam o fluxo de passageiros em horários de pico.
Configurações por operadora: Um panorama
As variações são evidentes ao comparar as linhas:
CPTM: Trens médios contam com cerca de 350 assentos no total, distribuídos em aproximadamente 43 por vagão. O modelo predominante é misto, com assentos laterais e transversais, deixando o centro livre e áreas próximas às portas desobstruídas para maior agilidade no embarque.
Linha 4-Amarela (ViaQuatro): Similar à CPTM, adota uma mistura de transversais e laterais. São 306 assentos ao todo – 52 nos vagões padrão e 49 nas extremidades –, otimizados para o alto tráfego da linha.
Linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha (Metrô SP): Aqui, a configuração é puramente transversal, com pares de assentos frente a frente em relação ao movimento do trem. Os assentos laterais, isolados e próximos às portas, são reservados para pessoas com mobilidade reduzida.
Essas diferenças destacam como cada operadora adapta o espaço ao perfil de sua rede.
Linha 6-Laranja: aposta em espaço livre
Em breve, a Linha 6-Laranja trará uma inovação: trens fabricados pela Alstom com assentos exclusivamente laterais, maximizando o espaço central para circulação. "Os trens respeitarão a norma de 15% de assentos mínimos da capacidade do carro", assegura Rafael Zaneti, gerente de engenharia da Alstom Brasil.
A capacidade é calculada com densidade de 6 a 8 passageiros por metro quadrado – um patamar já considerado desconfortável pela ABNT NBR 14183. Nos novos composições, serão 38 assentos nos carros de extremidade e 44 nos intermediários, totalizando 252.
Zaneti enfatiza o fator tempo de percurso como chave no design: "No Brasil, prevalecem trajetos de curta distância, nos quais a configuração pode ser longitudinal (ao longo das paredes laterais), transversal (similar aos ônibus) ou mista". Essa abordagem promete aliviar a superlotação em uma linha projetada para conectar bairros periféricos ao centro.
Para mais sobre inovações, leia: Novos trens da Linha 6-Laranja com energia regenerativa.
Impacto no cotidiano Paulistano
Com o transporte público respondendo por milhões de deslocamentos diários em São Paulo, essas configurações não são meros detalhes técnicos: elas afetam diretamente o bem-estar dos usuários. Enquanto linhas mais antigas priorizam o clássico transversal, projetos futuros como a Linha 6 apostam em fluxos mais dinâmicos.
O Não Surto busca esclarecer esses mecanismos para que você navegue melhor pela cidade. Qual configuração você prefere? Compartilhe nos comentários.
Reportagem adaptada de "O que define a disposição dos assentos das linhas de trem e metrô de São Paulo", por Vitor Queiroz, Estadão Mobilidade, 13/10/2025.