Aeromóvel na Estação Guarulhos |
O Aeromóvel de Guarulhos, sistema de transporte automatizado projetado para conectar os terminais 1, 2 e 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos à estação Aeroporto-Guarulhos da Linha 13-Jade da CPTM, enfrenta mais um adiamento indefinido. Em comunicado divulgado na quarta-feira passada, 1º de outubro, o consórcio AeroGRU informou que não há data estabelecida para a inauguração, originalmente prevista para setembro de 2025. O empreendimento, avaliado em R$ 270 milhões e idealizado há 12 anos, registra postergações desde o prazo inicial de fevereiro de 2024, o que desperta questionamentos sobre a execução e possíveis sanções regulatórias.
O sistema, que abrange um percurso de 2 km com tempo estimado de seis minutos por viagem, emprega tecnologia de propulsão pneumática nacional e funciona no nível de automação GoA4, ou seja, de forma totalmente autônoma, sem intervenção de operadores a bordo. Conforme a nota do consórcio, o projeto já superou mais de 15 mil testes de desempenho e segurança, alcançando o status de "totalmente funcional". No entanto, a certificação final pela entidade CERTIFER segue em análise, impedindo o início das operações comerciais. "Assim que o sistema estiver prestes a entrar em operação, o time de comunicação entrará em contato para informá-los da data em que passará a atender o público", declarou a AeroGRU.
Cronologia de prazos descumpridos revela entraves técnicos
A evolução do projeto é pontuada por uma sequência de revisões de cronograma que evidenciam obstáculos técnicos e regulatórios. As obras tiveram início em janeiro de 2022, com meta inicial para fevereiro de 2024. Posteriormente, os prazos foram reajustados para agosto de 2024, janeiro de 2025, agosto de 2025 e setembro de 2025 – todos não atendidos. A operacionalização ocorrerá de maneira escalonada, em três etapas: operação assistida com supervisão, transição para modo monitorado e, finalmente, automação plena, em conformidade com as diretrizes da CERTIFER e normas internacionais de segurança.
Investigações jornalísticas, como a reportagem da TV Globo em agosto de 2025, identificaram falhas de segurança durante os testes, levando equipes técnicas a adotarem medidas corretivas alternativas. Esses incidentes são apontados como principais responsáveis pelos atrasos. "O processo de certificação de um sistema de transporte automatizado de alta confiabilidade é extremamente rigoroso e segue padrões internacionais", explicou o consórcio, ressaltando a obrigatoriedade de validações em diversas condições operacionais, incluindo testes de confiabilidade e aprovação de mecanismos de emergência.
Anac instaura processo e prevê multas diárias elevadas
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) adotou medidas fiscalizatórias em resposta aos atrasos. Em maio de 2025, foi aberto processo administrativo contra a concessionária GRU Airport e o consórcio AeroGRU por suspeita de "descumprimento contratual". A penalidade pode alcançar R$ 33.640 por dia de defasagem, com base na Unidade de Referência da Tarifa Aeroportuária. Ao considerar o período de mais de 20 meses desde fevereiro de 2024, o acúmulo potencial excede R$ 20 milhões, embora o valor definitivo seja determinado após avaliação de circunstâncias agravantes ou atenuantes, assegurando o direito de contraditório e ampla defesa às partes envolvidas.
Usuários enfrentam alternativas custosas em meio à espera
Os atrasos impactam diretamente os passageiros do Aeroporto de Guarulhos, principal hub aéreo do país. A distância de 500 metros entre a estação da CPTM e os terminais é percorrida atualmente por meio de ônibus executivos remunerados, sujeitos a variações de tempo por conta do tráfego e acréscimos financeiros à tarifa ferroviária. A ativação do Aeromóvel traria benefícios como gratuidade, ar-condicionado, adaptações para pessoas com deficiência e horários ininterruptos, eliminando filas extensas.
Reações nas redes sociais refletem o descontentamento generalizado. Um post no X (antigo Twitter) resumiu o sentimento ao afirmar: "Vou me aposentar antes desse trem funcionar". Especialistas em mobilidade urbana atribuem os problemas a deficiências no planejamento e na execução, observando que o intervalo de 12 anos entre a concepção e a fase construtiva para apenas 2 km de infraestrutura sinaliza ineficiências estruturais.
Panorama nacional e orientações para projetos vindouros
No contexto brasileiro, onde a adoção de sistemas aeromóveis é restrita, o caso de Guarulhos assemelha-se ao de Porto Alegre. Lá, o ligação entre o Aeroporto Salgado Filho e a Trensurb – o único em pleno funcionamento até as enchentes de 2024 – permanece suspenso, com retomada estimada para 2026. Profissionais do setor sugerem que iniciativas futuras adotem cronogramas mais conservadores e reservas de contingência ampliadas, com ênfase na accountability para mitigar repetições de cronogramas frustrados.
A AeroGRU mantém que o sistema se encontra "prestes a operar", com as verificações técnicas finais em progresso. Contudo, projeções de analistas indicam possível inauguração apenas em 2026, considerando o padrão de adiamentos. O desenrolar da certificação e do inquérito da Anac é monitorado de perto, com expectativa de que o Aeromóvel contribua para a otimização do fluxo de milhões de viajantes anuais no aeroporto.