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6 de agosto de 2014

Comendo com os pombos na Barra Funda

Estrutura metálica do forro suja de fezes e quiosques de lanches embaixo fazem combinação perigosa

Praça de alimentação da estação Metrô Barra Funda é tomada por pombos / Leo Martins/ Diário SP

 

Comer na principal praça de alimentação da estação Barra Funda, ao lado das catracas do Metrô e da CPTM, por onde passam cerca de 40 mil pessoas por dia, pode se tornar uma aventura nada agradável. Na área onde estão instalados os quiosques que vendem salgados, lanches, sucos e refrigerantes, entre outros alimentos, há pombos por todos os lados.

 

Sem muito esforço é possível ver fezes no chão e nas estruturas metálicas do forro bem em cima das estufas dos salgados. Funcionários das lanchonetes admitem até que alguns clientes são "premiados" com o alvo certeiro das aves, chamadas popularmente de "ratos que voam" pelo risco de transmissão de doenças.

 

"Já reclamamos com a Socicam (administradora do terminal, que também recebe milhares de ônibus diariamente), mas não resolveu nada", conta a operadora de caixa do quiosque Barra Doce, Ana Emília Monteiro, de 26 anos.

"É anti-higiênico. Tem de eliminar tudo", opina a aposentada Olga de Oliveira, 77, que mora no bairro do Limão, na Zona Norte, e diz ter parado para comer no local por falta de opção. O comerciante Carlos Frederico, 43, veio de Santos, litoral paulista, e também disse que "só" arriscou parar com a família ali por necessidade. "Deveriam dar mais atenção a esse espaço", afirma.

 

Os clientes reclamam, mas, segundo as atendentes, alguns dão comida às aves. "Também cai muito farelo dos lanches, é inevitável", conta Karina Sampaio, 31, da Pizza Express.

 

Segundo ela, as reclamações sobre a sujeira do ambiente são constantes. "Isso prejudica nossas vendas também."

Sem saída/ A única opção para quem trabalha no local é tentar espantar os pombos, tarefa que se mostra inútil. "Não tem muito o que fazer", lamenta Karina.

 

Apesar das visitas, o fluxo de pessoas no quadrilátero comercial é intenso e tem quem não se importe em dividir o espaço com os pombos. "Para mim não incomoda", respondeu o ajudante geral, Jefferson dos Santos, 37.

Análise - Caio Rosenthal, infectologista

 

Fezes secas transmitem fungos

 

A presença dessas aves em um local de grande aglomeração de pessoas, em especial em uma área de alimentação, é totalmente prejudicial à saúde. Além das próprias fezes que ficam espalhadas pelo ambiente, ao bater as asas os pombos transmitem esporos, que são fungos encontrados na poeira, resultado das fezes secas das aves. Esses fungos, quando inalados, podem causar micoses no pulmão e resultar numa pneumonia, meningite ou mesmo doenças como a criptococose, histoplasmose e aspergilose (leia mais acima).

 

Os pombos vivem principalmente em centros urbanos onde tem muita gente, nos forros, prédios e casas, então é difícil eliminá-los, mas é necessário limpeza constante. Outra questão é o hábito das pessoas de alimentar as aves. Também é necessário educar a população.

 

Socicam fará vistoria no local dos quiosques

 

A Socicam, empresa que administra o terminal Barra Funda, disse, em nota, que tanto a retirada do lixo, feita diariamente, quanto a limpeza do piso são realizadas por uma empresa especializada terceirizada.

 

Ainda segundo o comunicado, é feito um cronograma para a limpeza constante de todas as áreas, "principalmente com o intuito de garantir que o espaço permaneça em condições adequadas de utilização e higiene".

 

A Socicam declarou ainda que, diante do fato apresentado, fará uma vistoria imediata na área de alimentação e, caso haja necessidade, haverá adequações nos processos.

 

"Contratamos uma empresa especializada, que possui licença ambiental para garantir que a captura dos pombos seja feita de forma adequada, bem como as demais ações para inibir o retorno das aves", diz a nota.

A empresa ressalta também que está em constante busca de novas soluções e processos que estejam em conformidade com a lei de crimes ambientais.

 

O terminal Barra Funda tem 17,7 mil metros quadrados de área construída e está localizado em uma terreno de quase 23 mil metros quadrados, segundo o site da Socicam.

 

Algumas doenças que os pombos podem transmitir

 

*Histoplasmose - fungo que causa doença pulmonar

*Criptococose - fungo que causa meningite

*Aspergilose - fungo que causa infecção crônica nos pulmões

*Clamidiose - bactéria que pode causar doença pulmonar, vômito e diarreia

*Dermatites - ácaros (piolho de pombo) que resultam em pontos avermelhados e coceira na pele

*Alergias - presença de ninhos e fezes de pombos no ambiente podem causar rinites e crises de bronquite

*Salmonelose - bactéria que causa toxinfecção alimentar, resultado de ingestão de carne e ovos contaminados com fezes animais ou humanas ou alimentos mal lavados

 

Fonte: Prefeitura

Por: Jéssica Lima

Especial para o DIÁRIO de SP