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27 de abril de 2014

'Ressuscitado', projeto de lei está a uma votação de acabar com rodízio em SP

SP tem 5,4 milhões de carros, segundo dados do Detran (2013)

Especialistas concordam com ineficácia da medida e dizem que aumento da frota, alternativas da população e irregularidades a tornaram inócua numa cidade com 7,5 milhões de veículos

O vereador Adilson Amadeu (PTB) ressuscitou o Projeto de Lei 15/2006. O texto propõe acabar com o rodízio municipal de veículos, que vigora na cidade desde 1997. A proposta chegou a ser aprovada em primeira discussão, durante sessão extraordinária da Câmara Municipal realizada no distante dia 5 de dezembro de 2007. Portanto, necessita de apenas mais uma votação para a aprovação definitiva que garantiria a extinção da medida.

Segundo o vereador, a política perdeu função com o crescimento da frota de automóveis e a falta de rigor em retirar das vias veículos irregulares. Para especialistas em mobilidade, a proposta do petebista não está errada. Somente a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) defende a ação, que pretende ampliar para outras regiões da cidade ainda este ano.

Amadeu considera que a medida não pode ser defendida em uma cidade que emplaca mil veículos por dia. Na visão do vereador, as atuais facilidades para comprar veículos fazem com que parte da população adquira mais de um automóvel, o que permite o uso de placas diferentes para fugirem do rodízio. “Qualquer trajeto, hoje, leva mais de uma hora. Tivemos muitas facilidades para adquirir carros e as pessoas se adequaram ao rodizio. A única coisa a que ele serve é para aplicar multas”, avaliou.

Para o vereador é preciso garantir o direito de quem paga os impostos de circular nas vias e eliminar os 2,5 milhões veículos irregulares que circulam cotidianamente. “Quero, com isso, que estado e município tenham vergonha na cara, que comprem guinchos e mantenham um pátio para tirar das ruas aqueles que estão andando livremente sem arcar com os tributos”, afirmou.

O rodízio municipal de veículos entrou em vigor em 1997, na gestão de Celso Pitta, de 1997 a 2000, com o objetivo de retirar 20% dos carros que adentravam o centro expandido, área composta por Marginal Tietê, Marginal Pinheiros, Ponte Engº Ary Torres, avenidas dos Bandeirantes e Afonso D´Escragnolle Taunay, Túnel Maria Maluf, Avenida Presidente Tancredo Neves, Rua das Juntas Provisórias, Viaduto Grande São Paulo, Avenida Prof. Luiz Inácio de Anhaia Mello, Avenida Salim Farah Maluf e Ponte do Tatuapé.

O funcionamento se dá das 7h as 10h e das 17h as 20h, restringindo a circulação de veículos a partir do número final da placa, sendo dois dígitos impedidos por dia. Com isso, se esperava amenizar os congestionamentos e reduzir as poluições sonora e do ar.

De acordo com dados do Detran paulista, do final de 2013, a cidade de São Paulo tem 5,4 milhões de carros, em um universo de 7,5 milhões de veículos. O número daqueles que circulam irregularmente, mencionado pelo vereador, corresponde a quase metade dos carros da capital e quase um terço do total automotores.

Segundo o mestre em Transportes pela Universidade de São Paulo (USP), Horácio Figueira, o principal problema é que as pessoas buscaram alternativas para fugir do rodizio sem deixar de usar o carro, utilizando o miolo dos bairros para não passar em vias restritas. Além disso, o número de motos – que não entram na medida – cresceu exponencialmente e a frota de carros duplicou. “Digamos que você tirava 20% de mil veículos, ou sejam, 200 carros. Hoje você continua tirando 20%, mas de dois mil. E as vias são praticamente as mesmas”, analisou.

A dispersão do congestionamento pela cidade também atrapalha. Hoje, ela atinge ruas e avenidas que não compõem a área de rodízio. Dessa forma, espalhou os problemas que se buscava sanar no centro para quase toda a capital.

Atualmente, segundo dados do sistema de monitoramento de vias MapLink, que acompanha cerca de dois mil quilômetros de ruas e avenidas, enquanto a CET monitora somente 800, a média de congestionamento na capital tem ficado próxima de 500 quilômetros diários, com picos de 600. Em dias de grande movimentação, como vésperas de feriados, chega facilmente aos 800.

Para Figueira, o resultado do fim do rodízio seria, no máximo, mais alguns quilômetros de congestionamento. “Talvez, uma parte das viagens as pessoas tentem fazer no horário de pico. Só que elas não vão conseguir porque o sistema viário opera no limite da capacidade. O que você vai fazer é aumentar, eventualmente, um pouquinho a fila do congestionamento. Agora, desde que isso não atrapalhe os corredores exclusivos de ônibus, ciclovias e as faixas de pedestres, eu não estaria muito preocupado”, afirmou.

Também especialista em mobilidade urbana e membro do Grupo de Trabalho sobre o tema na Rede Nossa São Paulo, Marco Nordi concorda sobre a ineficácia do rodizio. “Com a frota que temos hoje, o rodízio é inócuo. Precisamos discutir outras formas de restringir os veículos e garantir meios de as pessoas chegarem ao trabalho”, apontou.

Para Nordi, a taxação do acesso ao centro expandido seria uma alternativa. “Tem sido usada em outros países e parece a alternativa mais viável. Paga somente quem usa. A população com menor poder aquisitivo não vai de carro ao centro. Isso poderia, inclusive, contribuir para as pessoas dividirem o uso do carro, que hoje andam, no geral, somente com o motorista”, disse.

Ele observa que há muita preocupação sobre os carros, mas as políticas públicas devem priorizar o deslocamento da maioria. “As pesquisas de deslocamento, sobretudo a Origem-Destino do Metrô, demonstram que a maioria das pessoas se locomove a pé ou de transporte público. São eles que devem ser priorizados nos trajetos”. O especialista acredita que expandir o rodízio também não resolve: “Pode ter uma pequena melhora inicial, mas, logo, a população se adapta.”

Horácio Figueira relata que uma pesquisa realizada em 2009, em parceria com o Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado de São Paulo (Sindepark), ouvindo pessoas que utilizavam estacionamentos no centro da capital, teve resultado surpreendente. “Independente do número de veículos, a maioria tinha também uma moto em casa. Sobretudo os que não tinham poder aquisitivo para comprar mais um carro. E qual o objetivo de ter moto ou mais de um carro? Evitar o rodízio”, explicou.

O fato de as motos não entrarem no rodízio é uma questão sem resposta para o especialista. “Até hoje, eu não entendi. Ela polui inexplicavelmente, faz um barulho desgraçado, tem mais mortalidade em mobilidade, mas ninguém está preocupado. Olha que loucura, tem famílias que têm quatro carros e três motos para usar no dia de rodízio”, criticou.

Segundo Figueira,  a alternativa para combater o excesso de veículos e congestionamentos seria, portanto, deixar os carros à própria sorte e priorizar as faixas e corredores de ônibus, expandir com mais rapidez o metrô, garantir proteção e caminhos adequados para pedestres e ampliar as ciclovias e locais de parada para bicicletas.

“Não estamos criminalizando os carros. O problema é que um automóvel parado ocupa 25 m². Para ele andar a 15 km/h, você precisa de 40 m². Contando o espaço de segurança, são 80 m². É a área de um apartamento. Essa conta não fecha nunca mais. Eu acabaria com o rodízio desde que isso não interferisse nas travessias dos pedestres nos cruzamentos e no transporte coletivo nos corredores e faixas exclusivas”, concluiu Figueira.

Ampliação do rodízio
A Companhia de Engenharia de Tráfego estuda a ampliação do rodízio para outras vias, fora do centro expandido da capital. “O que resultaria num ganho de velocidade média na ordem de 8,5% (passando de 18,9 km/h para 20,5 km/h) e queda de 13% na lentidão da cidade de São Paulo”, explica a companhia, por meio de nota.

“Utilizando um software que simula os fluxos viários de toda a região metropolitana de São Paulo, o estudo da CET indicou que o modelo mais vantajoso para a população seria adotar um rodízio no formato do praticado hoje (com dois finais de placa proibidos de circular no Minianel Viário, conhecido como Centro Expandido, durante os picos de dias úteis), porém com um diferencial: o rodízio seria ampliado para as vias arteriais existentes fora do Minianel”, segue a nota.

Desse modo, poderia se levar o rodízio, por exemplo, para toda a Avenida Washington Luís, na zona sul da cidade, sem afetar a circulação nos bairros no entorno da via.

No entanto, segundo dados da própria CET, a eficácia do rodízio é bastante relativa. “A velocidade do tráfego geral no corredor Consolação/Rebouças/Eusébio Matoso vem sendo monitorada desde o início da operação, possibilitando uma análise das variações de velocidade no decorrer do tempo neste corredor: a velocidade média no período das 7 às 10 horas passou de 20,6 km/h em 2011 para 23,3 km/h em 2012. E no pico da tarde, a velocidade média do tráfego geral, nessas vias, passou de 7,6 km/h em 2011 para 9,7 km/h em 2012, revelando uma leve recuperação”, alega a companhia.

Com essa velocidade para a tarde, o trajeto entre a Praça da Sé, no centro, e o Jabaquara, na zona sul, com cerca de 11 quilômetros, levaria mais de uma hora para ser cumprido.

O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, não quis comentar a iniciativa do vereador e a posição dos especialistas.

Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2014/04/vereador-propoe-acabar-com-rodizio-de-veiculos-em-sp-especialistas-em-mobilidade-concordam-9247.html