Parlamentares viram diferenças gritantes entre os trens de Mogi e os de outras linhas |
Por Júlia Guimarães
A Comissão Permanente de Transportes da Câmara de Mogi das Cruzes cobrou ontem igualdade na qualidade dos serviços oferecidos pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) na Linha 11-Coral. Na manhã de ontem, os vereadores percorreram toda a extensão dos trilhos, de Mogi até a Luz, e ainda visitaram a Linha 9-Esmeralda, que corta a zona sul da Capital. Eles permaneceram cerca de seis horas nas dependências da CPTM e, ao final da viagem, verificaram que, em comparação com o restante do sistema, são bastante inferiores a infraestutura e o conforto oferecidos aos usuários locais, especificamente no trecho entre as estações Estudantes e Guaianazes. Os parlamentares destacaram que os mogianos pagam a mesma tarifa e, portanto, merecem receber o mesmo tratamento.
A viagem teve início às 8h12, partindo da Estação Estudantes, em Mogi das Cruzes, e contou com a participação dos vereadores Carlos Evaristo da Silva (PSD) e Expedito Ubiratan Tobias, além do ferroviário Adalberto Andrade, que foi convidado pela comissão. Os vagões estavam vazios e começaram a se encher mais consideravelmente a partir de Poá e Ferraz de Vasconcelos. Às 8h54, os parlamentares chegaram a Guaianazes e enfrentaram a baldeação. Em razão do horário, no entanto, eles não sofreram com o "tradicional" empurra-empurra de usuários em busca por espaço nos períodos de pico. O grupo embarcou em uma composição vazia, mas em razão da grande demanda, acabou viajando em pé e apertado. Às 9h23, desembarcou no Brás, onde conheceu o Centro de Controle Operacional (CCO) da CPTM (leia mais na página 3). Logo em seguida, os vereadores concluíram o trajeto até a Luz e seguiram para a Linha-9 Esmeralda.
Antes disso, no entanto, eles se impressionaram com as diferenças encontradas ao longo da própria Linha 11, entre o primeiro trecho (Estudantes/Guaianazes) e o segundo (Guaianazes/Luz). Na parte inicial do trajeto, os trens da série 4400 são pouco confortáveis, com assentos de material duro, espalhados de forma linear ao longo dos vagões. As composições não possuem ar condicionado, o que deixa os passageiros sujeitos a calor ou frio, dependendo do tempo. Além disso, há grande trepidação nos trens, o que provoca enorme barulho e deixa o trajeto bastante desconfortável. Também é precário o sistema de orientação dos usuários. Os maquinistas avisam, por microfone, a chegada às estações. Porém, a qualidade do som é tão ruim que a voz fica pouco perceptível, sendo comum que passageiros peçam ajuda uns aos outros sobre a localização.
Neste trecho, as estações também são problemáticas e, em sua grande maioria, não possuem equipamentos de acessibilidade, como elevadores, rampas e escadas rolantes. Este é o caso dos terminais instalados no município de Mogi das Cruzes, como o Estudantes, onde portadores de deficiência precisam ser carregados por funcionários da CPTM quando não conseguem atravessar de uma plataforma à outra. A estatal iniciou o processo de modernização dos prédios ao longo do trecho, com obras em Suzano e Ferraz de Vasconcelos, mas a previsão é de que as melhorias nos outros imóveis, que também deverão ser reformados, sejam concluídas apenas em 2014.
A realidade no trecho entre Guaianazes e Luz é bem diferente. O principal contraste está nos trens, sendo que após a baldeação, os passageiros embarcam no chamado Expresso Leste, trens espanhóis que começaram a circular no ano 2000. Os vagões possuem ar condicionado e assentos confortáveis. Além disso, as composições circulam sem qualquer trepidação e não apresentam barulho. O sistema de som também é eficiente, o que garante a boa orientação dos usuários. Além disso, todas as estações já passaram pelo processo de modernização e possuem escadas rolantes ou elevadores para acesso de portadores de deficiência. Este é o caso do Brás, que ainda dispõe de espaços para exposições de arte e apresentações culturais.
As maiores discrepâncias, no entanto, foram verificadas na Linha 9-Esmeralda, que corre paralela à Marginal Pinheiros e serve a zona sul da Capital. O primeiro grande impacto ocorreu no interior do trem, da série 7500, ainda mais moderno do que os espanhóis, chamados de Expresso Leste. As novas composições começaram a circular em 2011 e servem apenas a Linha 9. Além de ar condicionado e assentos confortáveis, elas possuem moderno sistema de orientação dos usuários. Os vagões ainda são equipados com monitores e painéis de led, que dão a localização do trajeto, como ocorre em algumas linhas do Metrô. Os vereadores ainda conheceram a Estação Vila Lobos-Jaguaré, que passou por reforma e foi entregue em março de 2010. Lá, eles encontraram um prédio totalmente novo e limpo. O local também tem acessibilidades, inclusive com orientações em braile para uso dos elevadores.
Ao final, os vereadores informaram que vão elaborar um relatório contendo o resultado da vistoria e solicitando à CPTM que a Linha 11, no trecho até Guaianazes, seja beneficiada com a mesma infraestrutura oferecida a usuários de outras regiões. O documento deverá ser entregue ao presidente da estatal, Mário Bandeira, que tem visita à Cidade marcada para o dia 30 de janeiro. "Ficou claro que existe uma grande diferença. Nossos usuários pagam a mesma tarifa e o que nós queremos é que haja igualdade nos serviços oferecidos", disse Carlos Evaristo.
Tobias, que durante a viagem se mostrou impressionado com as diferenças entre os trajetos, ao final, estranhamente, afirmou que a CPTM "está de nota 10". Questionado pela reportagem, ele mudou o discurso: "O empenho da CPTM, nas áreas de segurança e transportes, é nota 10. Mas, precisamos de melhorias na Linha 11 para que ela possa se igualar".
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