Trem da CPTM: em entrevista à EXAME, presidente da estatal Michael Sotelo garante que nunca existiu plano para o fim da empresa (Nacho Doce/Reuters) |
O artigo, publicado na EXAME em 21 de setembro de 2025, traz uma entrevista com Michael Sotelo, presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), destacando o futuro da estatal em meio à transição de suas linhas para a iniciativa privada e o fortalecimento de novas frentes de atuação, como a CPTM Serviços.
1. Contexto e reafirmação da continuidade da CPTM
Sotelo enfatiza que o governo do estado de São Paulo nunca planejou encerrar as atividades da CPTM, desmentindo rumores recorrentes. O objetivo das concessões das linhas, como a Linha 7-Rubi, que passará à TIC Trens em novembro de 2025, é melhorar a qualidade do serviço, acelerar investimentos e impulsionar o desenvolvimento. A estatal opera atualmente 196 km das linhas 7-Rubi, 10-Turquesa, 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade, mas a Linha 10-Turquesa também está prevista para ser leiloada ainda em 2025.
2. CPTM Serviços: Nova frente de negócios
Lançada em setembro de 2024, a CPTM Serviços é uma divisão voltada para consultoria, manutenção e aluguel de ativos ferroviários para empresas públicas e privadas. Em seu primeiro ano, a estatal assinou dois contratos, totalizando cerca de R$ 5 milhões:
• Contrato com a Central Logística (RJ), ligado à Secretaria de Transporte e Mobilidade Urbana do Rio de Janeiro, no final de 2024.
• Contrato com a empresa pública de Urbanismo da Prefeitura de São Paulo, para estruturação de um projeto de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). A meta inicial era um contrato por ano, mas para 2026, a CPTM planeja fechar três contratos, com negociações em andamento com duas ou três empresas para serviços continuados de manutenção e consultoria. Embora os valores financeiros ainda sejam modestos, o foco é consolidar a CPTM como um player estratégico no mercado de infraestrutura.
3. Receitas não tarifárias e gestão financeira
As receitas não tarifárias, como as geradas pela CPTM Serviços, representam 16% do faturamento da estatal, mas estão crescendo. A receita tarifária, proveniente da operação das linhas, continua sendo o principal pilar financeiro. A CPTM tem reduzido prejuízos por meio de iniciativas como:
• Redução de 20% nos custos de manutenção de trens, após nova licitação.
• Economia em energia elétrica, viabilizada por um leilão antecipado. Sotelo destaca que a eficiência operacional é uma prioridade, com melhorias graduais no nível de cobertura financeira.
4. Papéis futuros da CPTM
Com a transferência das linhas para concessionárias privadas, a CPTM está redesenhando seu papel. Três cenários são considerados:
• Braço do governo estadual: Foco no desenvolvimento de projetos e implantação de obras.
• Operador de linhas regionais de média capacidade: Como uma possível linha entre Santos e Cajati, operando até que uma concessão privada assuma.
• Agente generalista de infraestrutura: Similar à Infra, gerindo a infraestrutura ferroviária do país. Sotelo acredita que esses papéis podem coexistir, com o governo estadual valorizando a expertise técnica da CPTM para manter sua relevância.
5. Gestão de pessoal e transição
Para se adaptar à nova realidade, a CPTM implementou um Programa de Demissão Voluntária (PDV) e está capacitando funcionários para novas funções, como gestão e empreendedorismo. A estatal também busca integrar sua mão de obra qualificada com concessionárias, dado o déficit de profissionais técnicos no setor ferroviário. O processo é conduzido com transparência, respeitando as necessidades dos colaboradores.
6. Posicionamento estratégico
Além dos contratos, a CPTM está aumentando sua visibilidade em eventos setoriais e não ferroviários, como feiras de tecnologia e transporte, aproveitando sua experiência em logística de grandes públicos. A estatal também mantém forte presença nas redes sociais, reforçando sua marca no mercado.
7. Visão de futuro
O futuro da CPTM ainda está em construção, mas o governo estadual demonstra compromisso em preservar sua capacidade técnica. A estatal pode atuar como planejadora, desenvolvedora de projetos ou operadora de linhas regionais, dependendo das demandas do mercado e das diretrizes governamentais. A Linha 4 do Metrô é citada como exemplo de modelo híbrido, onde o Estado constrói e o setor privado opera.