A Linha 18-Bronze foi planejada como um marco na mobilidade da Região Metropolitana de São Paulo, prometendo conectar a capital ao ABC Paulista (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul) por meio de um moderno monotrilho elevado. No entanto, após anos de planejamento, entraves financeiros e decisões políticas, o projeto foi cancelado e substituído por um corredor de ônibus rápido, o BRT-ABC, que hoje avança lentamente como alternativa. Este texto reúne todas as informações disponíveis sobre a trajetória da Linha 18-Bronze, seu cancelamento e o status atual do BRT-ABC, com base em dados históricos, atualizações recentes e informações do site oficial do projeto (https://www.brtabc.com.br/), acessado em 20 de setembro de 2025.Origem e Planejamento do MonotrilhoA ideia da Linha 18-Bronze surgiu nos anos 1990, no âmbito do Plano Integrado de Transporte Urbano (PITU 2025), que identificou a necessidade de uma ligação rápida entre São Paulo e o ABC Paulista, uma região com cerca de 1,5 milhão de habitantes e tráfego intenso na Rodovia Anchieta. Em 2009, o Consórcio Intermunicipal Grande ABC investiu R$ 1,3 milhão em estudos funcionais para viabilizar o projeto. O edital foi lançado em 2013, sob o governo Geraldo Alckmin (PSDB), e, em agosto de 2014, foi assinada uma Parceria Público-Privada (PPP) com a concessionária VEM ABC (formada por empresas como Primav Infraestrutura e Construtora Cowan).
O monotrilho teria 15,7 km na sua primeira fase (com possibilidade de extensão a 20 km), 13 estações e capacidade para transportar entre 314 mil e 340 mil passageiros por dia. A linha ligaria a Estação Tamanduateí (integrada às Linhas 2-Verde do Metrô e 10-Turquesa da CPTM) a bairros como Rudge Ramos, São Bernardo Centro e Industrial Balneário, com estações como Alvarenga, Mooca, Viaduto Cachoeira, Cerâmica 9 de Julho e Jabaquara. O trajeto seria percorrido em cerca de 25 minutos, utilizando tecnologia de monotrilho elevado, semelhante às Linhas 12-Safira e 15-Prata. O custo estimado era de R$ 4,2 bilhões para o Estado (valores de 2014), com um contrato total de R$ 7,8 bilhões ao longo de 25 anos de concessão, incluindo obras civis, sistemas e fornecimento de trens pela concessionária.
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Projeto do antigo monotrilho da Linha 18-Bronze, que ligaria a capital paulista ao ABC Paulista, mas que foi encerrado pela gestão João Doria. — Foto: Reprodução |
Atrasos e Cancelamento
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Diário Oficial de SP traz extrato do acordo de indenização da Linha 18-Bronze. |
As obras estavam previstas para começar em 2015, com operação entre 2020 e 2022, mas enfrentaram obstáculos significativos. A falta de recursos para desapropriações (orçadas em R$ 700 milhões) e restrições federais ao endividamento de São Paulo durante o governo Temer travaram o projeto. Apesar de sobreviver em 2018 sem avanços concretos, a Linha 18-Bronze foi cancelada em julho de 2019 pelo governador João Doria (PSDB), que anunciou a substituição por um BRT-ABC, operado pela concessionária Metra, do grupo empresarial de São Bernardo do Campo. A justificativa foi economia de custos e maior rapidez na implementação, mas a decisão gerou críticas por suposto favorecimento à Metra, que teve sua concessão no Corredor ABD renovada por 25 anos. O cancelamento foi histórico: pela primeira vez, uma linha de metrô planejada em São Paulo foi descartada.
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O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) apresenta o projeto da Linha 18-Bronze, em foto de 29/01/2014. — Foto: Edson Lopes Jr./A2 FOTOGRAFIA/GESP |
O impacto foi sentido no ABC, que perdeu a chance de ter a primeira linha metroviária fora da capital. Críticos, incluindo prefeitos da região e especialistas, apontaram que o BRT teria metade da capacidade do monotrilho, sendo uma solução paliativa e incapaz de atender a demanda de longo prazo. Além disso, o cancelamento desperdiçou anos de planejamento e os R$ 1,3 milhão investidos em estudos iniciais. Em maio de 2025, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) encerrou definitivamente o projeto, assinando um acordo com a VEM ABC para pagar uma indenização de R$ 273,5 milhões (base abril de 2023), corrigida pela Selic para cerca de R$ 335-347 milhões (valores de junho de 2025). Isso pôs fim aos litígios judiciais iniciados após o cancelamento, sepultando a Linha 18-Bronze.
O BRT-ABC: A Nova Realidade
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Apresentação do antigo projeto da Linha 18 - Bronze do Monotrilho, encerrado pelo governo de SP em 2020. |
O BRT-ABC, gerenciado pela Metra em parceria com o governo estadual, é a alternativa em curso para atender a demanda de mobilidade do ABC. Segundo o site oficial (https://www.brtabc.com.br/), acessado em setembro de 2025, o projeto consiste em um corredor de ônibus rápido de 17,3 km, ligando o centro de São Bernardo do Campo ao Terminal Sacomã, em São Paulo, pela margem esquerda do Córrego Ribeirão dos Meninos, passando por Santo André e São Caetano do Sul. As obras começaram em fevereiro de 2022, após a emissão da licença ambiental em outubro do mesmo ano, e estão divididas em duas fases.
A Fase 1, com 2,5 km, está quase concluída, abrangendo pavimentação e concretagem nas Avenidas Aldino Pinotti, Lauro Gomes e até Winston Churchill, em Rudge Ramos. Inclui uma parada moderna em frente ao Shopping Metrópole, em São Bernardo. A Fase 2, iniciada em 2025, cobre 15 km, com 13 paradas, três viadutos, quatro pontes e cinco passarelas. A Licença Ambiental de Instalação para essa fase foi emitida pela Cetesb em janeiro de 2025. Atualmente, quatro frentes de obra estão ativas: Terminal São Bernardo, Av. Lauro Gomes, Rudge Ramos (próximo à Universidade Anhanguera) e Rua Aída, em São Paulo. A conclusão está prevista para outubro de 2026, com operação a partir de 2026, embora atrasos devido a licenças e desapropriações sejam possíveis.
O BRT-ABC contará com 16 estações modernas, equipadas com plataformas elevadas, ar-condicionado, Wi-Fi, informações em tempo real e pagamento pré-embarcado para agilizar o embarque. Haverá três terminais (São Bernardo, Tamanduateí e Sacomã) e três tipos de serviço:
- Expresso: 12 ônibus, 40 minutos até Sacomã, sem paradas intermediárias (intervalo de 4 minutos no pico).
- Semiexpresso: 34 ônibus, 43 minutos, com paradas em estações-chave como Winston Churchill e Goiás (intervalo de 3 minutos no pico).
- Parador: 30 ônibus, 52 minutos, parando em todas as estações (intervalo de 8 minutos no pico).