Metrô de São Paulo, 9h50 desta quarta-feira (8). O trem para, de repente, entre as estações Santana e Carandiru. As luzes se apagam, e o ar-condicionado é desligado.
Um, dois, três minutos se passam, até que uma mulher bem vestida e com aparentes 40 anos de idade passa correndo pela chamada passarela de emergência, um corredor estreito que fica entre os trilhos e a grade de proteção; nesse trecho da linha azul do metrô, os trens circulam em um elevado, passando por cima de uma avenida que liga a zona norte ao centro da cidade.
Jaqueta marrom, botas pretas e bolsa e sacola plástica na mão, a mulher para de correr e se volta para a grade. Agora está sob o olhar dos passageiros do trem parado, onde está a reportagem da Folha, e de pedestres e motoristas, lá embaixo, na avenida.
Um desses pedestres é o mineiro Altamiro de Souza, 52, motorista desempregado e que caminhava pela avenida Cruzeiro do Sul.
"Eu vi que ela estava correndo lá em cima, e comecei a gritar pra voltar. Quando ela parou e olhou pra baixo, corri pro meio da avenida e parei o trânsito", afirma o motorista desempregado, natural de Teófilo Otoni.
"Não pula, não pula, Jesus te ama", gritava Souza.
A mulher, desorientada, desce da passarela e agora já anda em cima dos trilhos, devidamente desligados (ou desergenizados).
ENCOSTO
No vagão em que está a reportagem, uma senhora de aproximadamente 60 anos começa a chorar: "Meu Deus, o que será que está passando pela cabeça dessa mulher".
Um outro passageiro parece preocupado com o horário: "Esse tipo de encosto é que atrasa a nossa vida".
A mulher começa a correr de volta para a estação Carandiru assim que percebe a aproximação, pelos trilhos, de um grupo de seguranças a partir de Santana. Um deles é o paulistano José Beserra, 58, há pouco mais três décadas nesse mesmo serviço no metrô.
De uniforme preto e debaixo do forte sol da manhã, ele enfim se aproxima. O temor é que ela se jogue lá de cima a qualquer momento. E, na cabeça dele, passa um filme de 15 anos atrás, quando atuava na antiga estação Ponte Pequena (hoje Armênia) e salvou uma mulher que acabara de se jogar no rio Tamanduateí.
A mulher, agora, já está do lado de fora da grade. Pode cair a qualquer momento. Fica lá poucos segundo, até voltar para uma área segura. "Quando me aproximei da mulher, usei toda a minha experiência. Quando ela abaixou a cabeça [e voltou para uma área segura], dei o bote e a segurei", disse, emocionado e ainda bastante suado, enquanto era atendido pelo serviço médico do metrô por causa ferimento na canela causada na hora do bote.
"Isso aqui [machucado] não é nada. Estou feliz, é uma vida salva."
Já com a canela enfaixada, ainda numa salinha da estação Carandiru, Beserra recebe um forte abraço do mineiro Souza, aquele que quase perdeu a voz para que a mulher não se jogasse no meio da avenida.
Folha de São Paulo