O ruído dos trens que operam no trecho entre as estações Guaianazes e Estudantes da linha 11 Coral da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) ultrapassa o volume recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), chegando a 102 decibéis podendo causar perda auditiva dos usuários. O estudo que comprova esses dados foi feito pela estudante mogiana Sara Jéssica Soja Venceslau, de 14 anos (leia mais nesta página). Ela participa da Mostra Paulista de Ciências Engenharia promovida pela Escola Politécnica da USP.
O trabalho denominado “Excesso de Ruído – Uma Epidemia Social” teve como base a experiência de seu tio Alexandre Soja, que ao chegar do trabalho sempre reclamava do barulho exorbitante dos trens, que utilizava diariamente como meio de transporte.
A estudante analisou o ruído produzido pelos trens convencionais que operam no trecho entre Estudantes e Guaianazes, com o auxílio de um decibelímetro digital. O pico de ruído foi de 102.9 decibéis no trecho entre Poá e Ferraz de Vasconcelos. Segundo a OMS, a exposição máxima a esse volume não deve ultrapassar um minuto diário.
Já o ruído médio manteve-se acima de 85 decibéis na maioria dos trechos analisados, embora o limite diário total para essa intensidade sonora não deva ultrapassar 35minutos de exposição, ainda segundo a OMS.
Sara Jéssica fez a medição em todas as linhas da CPTM e constatou que a linha Coral é a mais barulhenta, ou seja, é 18% superior à segunda colocada, que é a linha 7 Rubi, que circula entre as estações Luz e Jundiaí. Ao todo, ela realizou as medições em seis viagens na linha 11 e uma viagem nas demais linhas.
Perfil
Para obter o perfil do usuário dessa linha barulhenta, a estudante elaborou um questionário e entrevistou 140 pessoas durante suas viagens. Com essa pesquisa concluiu que a maioria das pessoas utiliza o trem para o deslocamento até o local de trabalho. Ela também descobriu que 56% dos entrevistados permanecem mais de 20 minutos no trem em cada viagem, considerando ida e volta, são mais de 40 minutos diários sujeitos a ruídos que ultrapassam os limites estabelecidos pela OMS para segurança auditiva.
Ao serem questionados sobre problemas auditivos ao longo da vida, 40% dos entrevistados revelaram que ao menos uma vez tiveram dificuldade auditiva. ”Apesar de não ser possível relacionar diretamente esses problemas ao uso do trem, fica evidente a possibilidade de o excesso de ruído a que são submetidos durante suas viagens, contribuir para a perda auditiva”, diz Sara Venceslau.
A estudante também comenta sobre o grande período que os maquinistas ficam expostos ao ruído. “Infelizmente, não foi possível ao longo do trabalho avaliar o barulho a que são submetidos os funcionários da CPTM. No entanto, é possível considerar que os maquinistas estão sujeitos aos mesmos ruídos, dado que a cabine do trem não possui nenhum tipo de isolamento acústico. Dessa maneira, ele estaria exposto a pelo menos oito horas diárias a ruídos excessivos”, ressalta Sara.
Segundo a médica Tatien Kusano, esse excesso de ruído, além de lesionar a audição também provoca estresse. “Muitas vezes recebemos pacientes no consultório com um alto nível de estresse e com baixa qualidade auditiva. Isso ocorre porque eles vão perdendo a audição com o tempo e não percebem, mas se fizermos um diagnóstico mais aprofundado considerando o dia a dia dessas pessoas, pode ter certeza que a maioria fica exposta diariamente há algum tipo de barulho excessivo”, esclarece Kusano.
Em seu estudo, a aluna Sara Jéssica procurou também soluções para amenizar esses efeitos. Ela conclui que a única solução exige investimentos para a melhoria dos trens. No entanto, em sua pesquisa, Sara descobriu que não há ainda uma preocupação a esse respeito por parte da CPTM quando adquire novos trens. Inclusive, ela apresenta em seu estudo um trecho de uma licitação pública para a compra de trens novos da Companhia. O documento especifica os tipos de aviso sonoros que devem fazer parte do trem e a necessidade de possuir sistema de áudio e música ambiente, mas não menciona os limites desses ruídos.
CPTM
A reportagem entrou em contato com a CPTM que informou que uma equipe especializada está analisando o projeto da estudante. A Companhia explicou que os trens adquiridos recentemente e os que já foram encomendados apresentam modernos padrões tecnológicos e de conforto. Esclarece, ainda, que os antigos trens atendiam, na época de fabricação, normas e especificações diferentes das atualmente padronizadas. A CPTM garante que os chamados trens antigos serão gradativamente substituídos. (Miriam Torres - Especial para O Diário)
Fonte: Diário de Mogi