19 de maio de 2013

Bibliotecas do Metrô de SP têm acervo ocioso há oito meses

De Machado de Assis ao moçambicano Mia Couto. De autoajuda à linguística.

Milhares de livros de autores consagrados e de diversos temas, antes disponíveis para empréstimo gratuito em estações do Metrô da CPTM, estão ociosos em prateleiras de bibliotecas do programa "Embarque na Leitura" há quase oito meses.

O acervo ocioso pertence ao Instituto Brasil Leitor, que idealizou e toca o projeto. A Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos cedeu os espaços nas estações.

Sem patrocínio há mais de dois anos, três bibliotecas tiveram que fechar as portas em outubro do ano passado: Tatuapé, Santa Cecília e Brás.

Seis funcionários que atuavam nas unidades foram demitidos e os livros --cerca de 12 mil-- ficaram indisponíveis para o público leitor.

Após o fechamento, usuários reclamaram e houve até um abaixo-assinado na internet pedindo a reativação das unidades. Sem sucesso.

A única biblioteca que continua aberta fica na estação Paraíso, na linha 2-verde do metrô --tem patrocínio de uma companhia suíça de aço.

A unidade, com 22 mil pessoas matriculadas, empresta 1,8 mil livros mensalmente.

Na época do lançamento do projeto, em 2004, o "Embarque na Leitura" foi anunciado pelo governo do Estado com o argumento de que as bibliotecas aproximariam os livros dos usuários da rede de transporte sobre trilhos.

Deu certo: o programa tinha, até o ano passado, cerca de 56 mil inscritos e 3,5 mil empréstimos mensais.

O Instituto Brasil Leitor informou que não tem nenhuma perspectiva de reabrir as bibliotecas. As empresas, diz a instituição, estão mirando patrocínios para outras áreas, como a esportiva.

O acervo do "Embarque na Leitura" será levado para outras 70 bibliotecas que o instituto administra no país.

OPORTUNIDADE

A Secretaria de Transportes Metropolitanos diz que apenas cede o espaço para o instituto e que a gestão das unidades cabe ao instituto.

"Para mim, era uma ótima forma de aliar a praticidade de ter uma biblioteca em um local de passagem com uma ótima distração, que é a leitura", disse a estilista Karin Martins, 25.

Ela pegou livros da saga Harry Potter na unidade da estação Tatuapé.

Martins conta que soube do projeto por sua mãe, que todas as semanas escolhia uma obra no programa.

ESTUDO

Um estudo divulgado pela prefeitura de Londres no ano passado mostrou que, em 2011, cada paulistano pegou, em média, 0,7 livros nas bibliotecas públicas. Em Tóquio, o índice anual chega 8,64; em Nova York, 8,32; em Berlim, 6,8 livros.

A pesquisa usou fontes oficiais --no caso de São Paulo, SPTuris e das secretarias da Cultura e do Planejamento.

No total, a capital paulista tem 116 bibliotecas públicas -número muito menor que Paris (830), Xangai (477) e Londres (383). Curiosamente, São Paulo tem mais bibliotecas que Berlim (88).

Folha de SP
LEANDRO MACHADO
DE SÃO PAULO