Uber muda regras das categorias Comfort e Black e preocupa motoristas

A Uber vai endurecer as regras das categorias Comfort e Black a partir de 2026, impondo critérios mais rigorosos sobre modelo, cor e avaliação mínima dos motoristas, que deverá ser de 4,85 estrelas. As novas exigências, porém, têm causado insatisfação entre condutores que investiram recentemente em veículos que agora serão excluídos dessas modalidades.

Segundo a Uber, as mudanças foram baseadas em pesquisas com usuários e em análises do mercado automotivo, buscando atender às preferências dos passageiros em relação a conforto, aparência e confiabilidade dos carros. No Uber Black, por exemplo, serão exigidos veículos de determinadas cores e padrões de fabricação, além de um mínimo de 100 viagens concluídas. Modelos como Renault Kardian, Citroën Basalt, Chery Tiggo 3X e Hyundai Kona Hybrid deixarão de ser aceitos.

No Uber Comfort, as exigências variam conforme o modelo do veículo, mas alguns, como o Renault Logan, sairão completamente da categoria até meados de 2026. A mudança tem gerado críticas entre motoristas, que apontam falhas na comunicação e impactos financeiros diretos, especialmente para quem adquiriu recentemente um carro para se enquadrar nas categorias premium.

Para especialistas em mobilidade urbana, atualizações periódicas são naturais nesse tipo de serviço, mas é essencial garantir clareza e tempo de adaptação aos motoristas. Embora o objetivo seja elevar o padrão de qualidade e segurança das corridas, o desafio está em não comprometer a renda dos profissionais que dependem da plataforma.

Um levantamento do GigU mostra que motoristas que faturam entre R$ 77 mil e R$ 103 mil por ano — trabalhando cerca de 50 a 60 horas semanais — têm lucro líquido estimado entre R$ 28 mil e R$ 51 mil após os custos com combustível, manutenção, impostos e seguro. Ou seja, mesmo com ganhos brutos expressivos, a margem real continua apertada.

Para Luiz Gustavo Neves, cofundador e CEO da fintech, o cenário reforça a necessidade de políticas públicas que acompanhem o avanço das plataformas digitais. "A flexibilidade, embora atraente, muitas vezes vem acompanhada da ausência de benefícios formais, estabilidade e proteção previdenciária. É preciso equilíbrio entre inovação, geração de renda e proteção ao trabalhador", afirma.

O ponto central das mudanças está justamente em conciliar a expectativa de um serviço mais sofisticado com a viabilidade financeira de quem o oferece — sem transformar o aprimoramento da experiência do passageiro em um prejuízo para o motorista.