Passageiros da Linha 10–Turquesa da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que interliga as estações Brás e Rio Grande da Serra, sofrem com a falta de segurança do sistema de transporte público. Há duas semanas, cinco vítimas foram assaltadas na Estação Utinga, em Santo André, em crimes que ocorreram em dois dias consecutivos. Em uma das ocorrências, um jovem de 20 anos foi baleado.
A equipe do Diário conversou com usuários do modal, que elencaram diversos problemas de segurança nas estações localizadas no Grande ABC. Alguns passageiros, inclusive, evitam utilizar o trem no período noturno, na tentativa de fugir dos assaltos. Este é o caso da estudante Milena Domingos, 16 anos, moradora de Santo André que se desloca até o Centro da Capital todas as sextas-feiras. “À noite, não tenho coragem de usar (a Linha 10–Turquesa). É muito perigoso. Se não tiver jeito, é melhor pegar um táxi”, considera.
A dona de casa Ângela Maria da Silva Reis, 52, mora em Santo André e também diz evitar o uso do transporte. “Se puder, só uso uma vez por ano. A gente não tem segurança nas ruas e muito menos durante o trajeto. Não dá pra ficar tranquila”, reclamou.
Questionada sobre os acontecimentos recentes e também sobre a sensação de insegurança dos passageiros, a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) afirmou que conta com 1.300 agentes para a ronda em todas as 92 estações das seis linhas que integram o sistema, que atende 22 municípios. “A atuação foi reforçada na Estação Utinga devido aos fatos da semana passada”, disse em nota.
Conforme a companhia, o circuito de segurança interno e monitoramento das linhas é feito por 5.000 câmeras instaladas em trens e estações de toda a rede. Em casos de ocorrências, a CPTM diz que as imagens do circuito são enviadas às autoridades policiais responsáveis pelas investigações dos crimes.
A orientação ao passageiro é a de que, se perceber qualquer comportamento inadequado ou obtiver informações sobre criminosos, denunciar por meio do serviço SMS-Denúncia, por meio do telefone 9 7150-4949, de forma anônima. “A mensagem é recebida no centro de controle de segurança, que destaca os agentes mais próximos para verificação imediata e tomada de providências.”
OPINIÃO
Para o especialista em Segurança Pública, ex-coronel da PM (Polícia Militar) e ex-secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho, a principal responsabilidade é da companhia. “O principal que deve ser feito é intensificar o uso de câmeras. No Metrô, tinha muito assalto e, depois que foi investido nisso (sistema de monitoramento), e começou a filmar e fotografar, os assaltos acabaram. Isso mostra como o uso de câmeras é importante”, disse.
O ex-secretário nacional de Segurança Pública também destacou o papel importante da investigação. “A polícia deve ir atrás destas pessoas e prendê-las, já que são sempre os mesmos grupos. Se prende um ou dois deles, já desmobiliza a quadrilha”. Outra recomendação do especialista é que seja feito trabalho de cooperação entre a CPTM e as forças policiais.
OCORRÊNCIAS
No dia 28 de setembro, dois assaltantes abordaram duas mulheres em um vagão do trem e levaram os celulares das vítimas, por volta das 20h30. Ao desembarcarem na Estação Utinga, os criminosos tentaram roubar o atendente de telemarketing Kevin Alvarez Abaunza, 20 anos, que reagiu e foi atingido por um tiro na clavícula.
Em conversa com a equipe do Diário, o colombiano afirmou que, sem alternativa, continua usando o trem como transporte público. Abaunza mora em Santo André há seis anos e, neste período, sofreu quatro tentativas de assalto. Ele revela que reagiu a todas as ocorrências, atitude que não repetiria. “Acredito que não faria mais isso. A vida vale mais do que os bens materiais”. Em Bogotá, sua cidade natal, o jovem nunca passou por situação de violência.
Apesar dos transtornos, Abaunza não pretende deixar o Grande ABC. Ele, inclusive, programa retomar o curso de Administração na USCS (Universidade Municipal de São Caetano), trancado no ano passado. Aos poucos, o jovem vai voltando à rotina antiga. Na quinta-feira, ele voltou a trabalhar. No entanto, os momentos de tensão não são esquecidos. “Moro a cinco minutos da estação e, no momento (da tentativa de assalto), não vi nenhum segurança para pedir ajuda. Quando cheguei em casa, vi que tinha sido baleado. Meus pais ficaram desesperados e fomos até o hospital”, lembra.
Na noite seguinte ao drama vivido pelo colombiano, duas vítimas, que estavam aguardando o trem com destino a Mauá na plataforma da Estação Utinga, foram rendidas por quatro indivíduos e tiveram pertences subtraídos. A ação aconteceu por volta das 23h.
Os dois casos estão sendo investigados pelo 2º DP (Camilópolis), onde foram registrados os boletins de ocorrência. Conforme o delegado titular do espaço, Georges Amauri Lopes, ainda não é possível dizer que há conexão entre os dois crimes. “O roubo com emprego de arma de fogo é algo que pode ser cometido por pessoas diferentes sem qualquer ligação umas com as outras”, afirmou. Conforme o delegado, a investigação ainda aguarda imagens do circuito de câmeras da estação.
Neste ano, o delegado também citou ocorrência de assédio sexual na Linha 10–Turquesa da CPTM há cerca de duas semanas. Um homem foi preso após tocar de forma indevida em uma passageira. A vítima avisou um agente da companhia e o criminoso foi preso pela Polícia Civil.
Diário do Grande ABC