6 de abril de 2012

CPTM atrasa vida dos trabalhadores

Com 15 panes nos primeiros meses do ano, problemas da CPTM atrasam o trabalhador e podem gerar demissões

Se fizesse uma música que citasse os trens hoje, dificilmente Adoniran Barbosa poderia cravar um horário, como fez em “Trem das Onze”. Atualmente, poderia ser das onze e quinze, onze e meia... Dependeria das panes e atrasos – já foram 15 ocorrências graves em 2012, contra 42 no ano passado. Com os registros recorrentes, os trabalhadores acabam se atrasando e, consequentemente, se prejudicando nas empresas.

Segundo Rogério Giannini, secretário de relações de trabalho da CUT-SP (Central Única dos Trabalhadores), os trabalhadores foram “empurrados” para a periferia e os investimentos no transporte não acompanharam esse deslocamento. “O empresário pensa: ‘De novo essa desculpa do atraso do trem’. Mas realmente tivemos vários episódios recentes e esses atrasos acumulados contam negativamente em um futuro corte. O trabalhador não tem culpa e é punido por morar longe.”

Desempregado, Cleiton de Sousa Silva, de 22 anos, está sentindo na pele os prejuízos da ausência de uma melhor estrutura nos trens e afirma que já perdeu oportunidades por morar em Carapicuíba, na região Oeste da Grande São Paulo, e depender do transporte público.

“Passei em todas as fases, mas, quando foram me contratar, perguntaram onde eu morava e disseram que iriam dar preferência para candidatos que residiam em locais mais próximos. Eles não confiam, pensam que vou me atrasar e prejudicar a empresa. Acho que se o transporte público tivesse mais qualidade eu conseguiria uma vaga mais facilmente”, afirma.

O peso dos atrasos nos trens também incide no despertador dos trabalhadores. “Quando pergunto para minha funcionária quanto tempo ela demora para chegar, ela diz que leva de uma hora e dez a duas horas e meia. É um intervalo muito amplo. Por precaução, o trabalhador tem de acordar mais cedo e sair de casa com muita antecedência”, diz  secretário da CUT.

EMPRESAS/ José Roberto Machado, gerente comercial do Grupo Gente, afirma que o problema não pode ser generalizado. “A preferência por um trabalhador que resida em local próximo só acontece quando há mais de um candidato e os custos com transporte são maiores no caso de um deles.”

Para Willians Ferreira, coordenador do CST (Centro de Solidariedade ao Trabalhador), a questão também está vinculada à vaga. “Dependendo da qualificação exigida, não é um empecilho e acaba pesando mais a necessidade da mão de obra qualificada”. Para ele, quando as exigências da vaga são menores, a proximidade e a facilidade de acesso contam mais.

“A sociedade, inclusive governos e empresários, tem de se ‘vacinar’ contra esse tipo de comportamento de punir o trabalhador por conta de problemas no transporte. O que é preciso é pensar estratégias para dar melhores condições de ele se locomover”, conclui Rogério

Diário de SP