5 de março de 2011

As vozes que fazem o Metrô andar nos trilhos


Um grupo de 897 operadores utiliza diariamente a voz para emitir mensagens necessárias para garantir a ordem e a segurança nos vagões


São 897 homens e mulheres que, diariamente, emprestam suas vozes bem treinadas para o Metrô paulistano. Operadores dos trens, eles mobilizam diariamente seus timbres para informar o nome da próxima estação, a importância das normas de segurança e a necessidade de respeitar assentos para idosos e deficientes. Para eles, comunicação é o instrumento mais que perfeito para chegar ao destino sem perder o controle da situação.

Divididos pelas linhas Azul, Vermelha, Verde e Lilás, eles lançam mão diariamente de um arsenal de 40 mensagens (PA ou public audition, no jargão operacional do Metrô), pensadas pela equipe de marketing daempresa para atender às mais diversas situações, de modo a transmitir segurança e tranquilidade ao usuário.

Improviso não faz parte das atribuições desses homens e mulheres. Nem amadorismo. Ciente de que as vozes que emitem as mensagens são uma espécie de "marca registrada" da empresa, o Metrô  oferece aos seus funcionários um treinamento especial, realizado em parceria com o Senai.

No curso, os operadores aprendem, entre outras coisas,  técnicas de entonação e dicção e a enfatizar as pausas nos momentos mais adequados.


Em cada uma das cabines do Metrô, os operadores têm à disposição um livreto no qual estão relacionadas as 40 mensagens que podem ser lidas diariamente. A maioria já as tem decoradas, mas, no caso de operadores iniciantes ou de "brancos" ocasionais, a relação é sempre muito bem vinda.

Poucas situações justificam a quebra da rotina informativa do Metrô. Mensagens diferentes só em  eventos marcantes da vida da cidade ou do país, como a Virada Cultural, o Réveillon e a Copa do Mundo.

No último Mundial, os dias de jogo do Brasil eram sempre uma novidade. Orientados a abastecer os usuários com informações, os operadores entravam em cena a cada gol, para atualizar o placar.
Foto: Ricardo Guimarães
Por essas e outras, são poucas as reclamações relacionadas às vozes do Metrô. Quem reclama, em geral, quer mais. Como quem pede mais mensagens  sobre assentos preferenciais para idosos.

Operadores emitem 64 mil lembretes diários
Diariamente são emitidas aproximadamente 64 mil mensagens sonoras pelos operadores de trem  do Metrô de São Paulo. Nos trens mais modernos, digitalizados, esse número corresponde a 24 mil mensagens emitidas automaticamente.

88.000 
esse é o número total de mensagens emitidas em um dia

Empresa quer treinar 1.200 funcionários

A meta no Metrô é ter 1.200 funcionários treinados para usar adequadamente  a voz, num futuro próximo. O curso de locução, em parceria com o Senac, tem o objetivo de aprimorar e tornar mais saudável a fala dos operadores. Para isso, são usadas técnicas de locução e procedimentos da fonoaudiologia.

Poucos têm o que reclamar das vozes
As reclamações sobre a qualidade das mensagens  são muito poucas, de acordo com o controle do Metrô. Em geral, são reclamações sobre volume alto ou baixo das mensagens ou pedidos para aumentar a frequência das emissões.

65,3 
quilômetros é a extensão atual do Metrô de São Paulo

Tendência é, aos poucos, digitalizar as mensagens
Pouco a pouco os operadores deixarão de soltar a voz dentro dos vagões do Metrô. A tendência é a modernização dos trens, o que inclui a digitalização e a emissão automática de gravações com as diversas orientações, conhecidas como PAs no jargão do Metrô.

O projeto do Metrô é modernizar a frota, inclusive os vagões mais antigos, que datam da década de 1970.

Tal  modernização inclui, entre outros aspectos da estrutura, um novo sistema de som e ar condicionado, câmeras de segurança dentro e fora dos vagões  (os mais modernos possuem quatro câmeras por vagão e duas na área externa) e a digitalização na emissão das vozes.

Com 828 carros (cada trem é formado por uma quantia fixa de seis carros) e uma extensão de linhas que totaliza os 65 quilômetros, o Metrô planeja estar com a maioria da frota modernizada até 2014. 

Novos trens terão digitalização na emissão das vozes 
Atualmente, o sistema digitalizado de emissão de mensagens já está em funcionamento em seis trens da linha Azul, 16 da Verde, nove da Vermelha e oito da Lilás. Nestes trens, hoje, a voz que dá os recados é da locutora Ana Martins. 


A padronização, porém, não exclui a possibilidade de outras vozes do Metrô voltarem à cena em casos de  impedimento para o fechamento das portas.


No trabalho como operador dos trens do Metrô, Ricardo Gomes Novaes encontrou o incentivo para o Frank Sinatra que o habita. "Sou um cantor frustrado. Sempre gostei de cantar, mas nunca me arrisquei a cantar profissionalmente", admite. Há 12 anos na empresa, Ricardo, casado e pai de quatro filhos, já foi abordado por um usuário que lhe ofereceu trabalho como locutor em uma  rádio. "Não faz muito tempo.
 O operador Ricardo Gomes Novaes 
  Agora estou amadurecendo a ideia. Nunca é tarde demais para tentar", filosofa. Baixinho de voz potente, ele conta que costuma enganar bem quem o ouve. "Minha voz dá uma ideia totalmente diferente de mim: acham que sou alto e  forte. Alguns esperam eu sair da cabine e, assim que me veem, com esse 1,60 metro, caem na gargalhada", relata. Ele conta que já foi seguido por um grupo de garotas empolgadas com sua voz. Seu desembarque, no Ipiranga, foi acompanhado pelas meninas com expectativa logo transformada em muxoxos e sonoras risadas. "Ficaram decepcionadas", desculpa-se. Foto acima Renata Primerano, Salvador Abal Muniz, Ricardo Sergio Gomes Novaes e Paulo Roberto Rodrigues são operadores de trens do metrô que tem entre suas funções, dar os recados aos usuários  Fonte  Diariosp