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2 de outubro de 2013

Linha Amarela do metrô faz propaganda irregular no sistema de som devagões

ViaQuatro usa gravação similar à que orienta passageiros para fazer anúncios; Secretaria de Transportes Metropolitanos mandou retirar áudio dos trens

A Linha 4 – Amarela do metrô de São Paulo, administrada pela concessionária ViaQuatro, passou a veicular nesta terça-feira anúncios no sistema de som dentro dos vagões. Entre os avisos de paradas, uma gravação chama a atenção dos passageiros para uma ação de merchandising de uma empresa de cosméticos. Questionado pela reportagem do site de VEJA, o governo de São Paulo decidiu apurar o caso e promete punir a ViaQuatro.

A propaganda foi gravada em voz feminina bastante similar à voz oficial da ViaQuatro, que informa o nome da estação antes de o trem chegar à plataforma. O anúncio é veiculado a cada parada dos trens, sempre antes do aviso com o nome da estação seguinte. O spot sugere que o passageiro desça na Estação da Luz, onde a empresa faz promoção de produtos de beleza, independentemente de onde o trem esteja passando no momento.

"Atenção passageiros. Desembarque na Estação Viva Linda com O Boticário e descubra como a beleza pode transformar o seu dia. De 1º a 5 de outubro na Estação da Luz", diz ao áudio da propaganda.

Depois de questionada sobre o spot publicitário, a Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos determinou que a concessionária retire a propaganda do sistema de sons. Em nota, a pasta afirmou que a Via Quatro não submeteu a propaganda à avaliação do governo paulista e que "não autorizou a ViaQuatro a veicular inserções publicitárias por meio do sistema de som dos trens". "O contrato de concessão disciplina o uso de espaços e outras mídias para campanhas publicitárias, que sempre dependem de aprovação prévia do poder concedente", diz a nota. "Um processo administrativo foi aberto para apurar a ocorrência e determinar a punição da concessionária."

A compra dos espaços publicitários é negociada diretamente com o setor comercial da ViaQuatro. A comercialização de anúncios nas estações e nos vagões da Linha 4 - Amarela tem aumentado. A concessionária abriu lojas e quiosques, por exemplo, na Estação Pinheiros, que é compartilhada com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Dentro dos vagões, a ViaQuatro colocou adesivos nos vidros dos trens – atualmente com campanhas sobre programas de TV. Mas esta foi a primeira vez que a propaganda chegou ao sistema sonoro.

Alertas – O sistema de sons do Metrô é usado para avisar aos passageiros que estão dentro dos vagões qual será a próxima parada da linha. Ele também é usado, pelos maquinistas que conduzem os trens, para dar orientações sobre paralisações de emergência, falta de energia nos trilhos, reduções de velocidade e outros problemas operacionais.

O sistema costuma veicular apenas campanhas de cunho informativo e educacional, como pedidos de respeito ao uso dos assentos preferenciais para idosos, gestantes e pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Também emite alerta para que passageiros não bloqueiem o fechamento das portas e ocupem espaços no corredor dos vagões, liberando a região das portas para entrada. Na ViaQuatro, como os trens não são tripulados, o sistema repete uma gravação.

Inovação – Especialistas em transportes ouvidos pela reportagem disseram que não conhecem outro metrô em todo o mundo que veicule publicidade no sistema sonoro dentro dos vagões. Eles têm visões diferentes sobre o assunto, mas todos defenderam que o sistema seja usado prioritariamente para dar informações ao passageiro e de forma adicional para comunicar sobre serviços públicos existentes nas proximidades das estações, como museus e postos de polícia – o que não ocorre atualmente no metrô de São Paulo.

"Quando o metrô começou a funcionar em São Paulo, era proibido ter qualquer tipo de propaganda. É uma prática que se tornou comum com o passar dos anos, mas na minha visão, isso é uma questão mais do que contratual. Você tem que ter bom senso na hora de colocar uma publicidade desta", disse Horácio de Augusto Figueira, mestre em Transportes pela Universidade de São Paulo (USP). "No caso dessa publicidade específica, deveria ser o inverso. A próxima estação deveria ser anunciada antes e depois ter um complemento da informação. Você também não coloca uma publicidade de uma estação que está muito a frente. Se você inserir a publicidade, o ideal seria que você informasse entre o caminho da estação anterior e ela. Se falasse algo que está acontecendo na próxima estação até que tudo bem, mas dessa forma dá um nó na cabeça das pessoas."


Para Luiz Célio Bottura, engenheiro consultor em transporte e ex-ombudsman da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), os spots são apenas uma maneira de lucro encontrada pela ViaQuatro. Ele defende que o sistema de sons dentro dos vagões seja reservado a informações úteis aos passageiros: "Eu não faria esse tipo de publicidade. É uma maneira que a Linha 4 - Amarela está inventando para ganhar dinheiro. Floreando uma informação que deve ser clara e objetiva. Na minha visão, a publicidade pode existir quando não confunde a cabeça das pessoas, e esta acaba atrapalhando".

O consultor de tráfego Flamínio Fichmann entende que a veiculação de informações no sistema de transportes deveria ser incentivada no Brasil. "Eu gosto muito do sistema de informação dos metrôs e ônibus e acho que o Brasil explora muito pouco isso. Em outros lugares do mundo, enquanto os passageiros esperam o próximo trem, uma projeção na parede informa o clima, a situação do metrô e alterna com algumas publicidades", diz Fichmann. "Eu acredito que isso não causa nenhum conflito e que as pessoas não tenham nenhum problema de entendimento. É possível conviver com as duas informações."

Falha - A ViaQuatro disse, em nota, que a campanha publicitária divulgada nesta terça-feira foi veiculada "equivocadamente". Segundo a empresa, o áudio com a propaganda estava em fase de testes. "A concessionária esclarece que o impacto sonoro da mensagem estava sendo testado em apenas um dos trens da linha, em ambiente interno e fora da operação comercial. Por uma falha técnica/operacional, o aviso permaneceu no sistema de áudio dos trens que entraram em circulação", disse.

Fonte: Veja